À semelhança de outras abordagens de desenvolvimento pessoal, o Mindfulness é muitas vezes usado como um meio para alcançar algo: bem-estar, sucesso, dinheiro, tranquilidade, equilíbrio, etc. Serão essas as únicas razões para praticar Mindfulness?

A palavra Mindfulness tem sido traduzida de inglês para português como “Atenção plena”, “Consciência plena”. Se usarmos a tradução sueca, podemos falar em “Presença consciente”.

Jon Kabat-Zinn, um psiquiatra americano considerado o pai do Mindfulness no Ocidente, diz que: Mindfulness é “a consciência que emerge de se prestar atenção ao momento presente, intencionalmente e sem julgamento, às coisas como elas são.”

Dito isto, Mindfulness não é meditação por definição. Meditação é uma forma de praticarmos Mindfulness. Isto é, podemos praticar Mindfulness através da meditação como também em qualquer outro momento da nossa vida. Qualquer coisa que estejamos a fazer, nós podemos prestar atenção a essa coisa nesse preciso momento, intencionalmente e sem julgamento, exatamente como ela é. 

A palavra “intencionalmente” é relevante nesta definição. Às vezes, estamos a prestar atenção ao momento presente – estamos muito imersos numa determinada atividade – não estamos a julgar, mas também não estamos a prestar atenção intencionalmente, a atenção simplesmente aconteceu. Isto é, estamos a prestar atenção sem termos noção de que estamos a prestar atenção. 

Isso é diferente de quando estamos num estado mindful, em que estamos conscientes de que estamos presentes. É essa intencionalidade que nos ajuda no não julgamento, quando fazemos uma descrição do que observamos sem dizer se “está bem ou mal”; “certo ou errado”; “se deveria ser diferente”; etc.

Os estudos demonstram que:

  • 95% das pessoas procuram Mindfulness para “reduzir experiências negativas” (stress, ansiedade, etc). Querem mais calma, melhor regulação emocional.
  • 30% das pessoas querem aumentar a sensação de bem-estar. Querem sentir-se mais felizes, mais realizadas, mais autoconscientes, mais concentradas e focadas, etc.
  • 30% das pessoas praticam Mindfulness porque outra pessoa achou que seria bom para elas, é por influência de outras pessoas.
  • 6% das pessoas praticam Mindfulness por razões mais espirituais e/ou religiosas (budismo e outros). Em qualquer religião, podemos encontrar práticas de Mindfulness. Por exemplo, no catolicismo pode ser rezar o terço.  

MAS…

Mindfulness não é apenas uma técnica para reduzir stress, aumentar a concentração, aguentar a dor, sentir mais autocompaixão… É importante colocarmos o Mindfulness numa escala mais ampla e questionar se às vezes não estamos a utilizá-lo para evitar resolver outras questões.

Exemplo:
>> Eu posso colocar programas de Mindfulness na escola só que não faço nada em relação aos fatores que causam o stress e o mau comportamento nas crianças. Introduzo apenas uma técnica de desempenho individual para diminuir os níveis de stress quando se calhar se fizer outras mudanças, iria ver resultados iguais ou melhores até.

>> Empresas que pedem para fazer práticas de Mindfulness e ensinar Mindfulness aos colaboradores sem questionarem o porquê dos colaboradores estarem tão stressados e a precisarem de Mindfulness.

>> Posso estar num sítio onde há injustiça, onde as pessoas sofrem, mas eu aprendo a estar bem com isso, medito, fecho os olhos, conecto-me comigo e fico consciente da minha consciência e está sempre tudo bem.

Podemos olhar para o Mindfulness como um convite a estar consciente da nossa consciência, com uma reflexão e um efeito prático: “O que vou fazer com isto?”

Para mudarmos o mundo, temos de mudar nós? Ou se o mundo mudar, nós também mudamos?
A primeira parte é a que mais vemos e a mais acessível. É mais fácil mudar alguma coisa em nós do que mudar o mundo inteiro. Só que estas duas partes são dinâmicas: não é uma coisa OU outra. São AMBAS as coisas paralelamente. A primeira parte não chega apesar de que, muitas vezes, o Mindfulness é vendido como se isso fosse suficiente. Há, por exemplo, muitas pessoas que meditam muito e são muito boas a fazê-lo mas não são ativistas para um mundo melhor.

A proposta é de um Mindfulness ativista que começa por nós individualmente e se estende para os outros.

“Podemos ser ativistas por um mundo interior melhor enquanto também somos ativistas por um mundo exterior melhor.” 

Praticar Mindfulness nas organizações e nas famílias refletindo sobre:

  • Quais são as nossas verdadeiras intenções com a nossa prática? Será que as nossas intenções são apenas individuais ou é mais do que isso?
  • Que resultados esperamos desta prática de Mindfulness? Quais são as nossas expectativas? (Se tivermos muitas expectativas, talvez não estejamos a praticar realmente Mindfulness.)
  • Além do Mindfulness formal, o que mais vamos fazer? (enquanto mãe de família, líder de uma organização, professora de escola, etc.)

Há muitas razões que nos podem levar ao Mindfulness (ter mais calma, livrar-se da ansiedade, ter mais foco, menos stress, etc) e quando começamos a praticar Mindfulness, podemos agradecer essas razões, colocá-las de lado e praticar pela prática em si.

Praticar Mindfulness na nossa vida pessoal refletindo sobre:

  • Quais são as minhas verdadeiras intenções com a minha prática? 
  • O que vou fazer na prática para praticar Mindfulness?

Não tem de ser necessariamente meditação. A ideia é fazer o que fazemos enquanto o fazemos. Será meditar? Surfar? Fazer Ioga? Beber café? Correr? Nadar? Fazer amor? Fazer croché? Lavar os dentes? Lavar a loiça?, etc.

Exemplo:
Se vou fazer croché, então vou observar o movimento, as sensações físicas, o que estou a criar. É uma observação intencional com o máximo de sentidos presentes sem julgamento e com compaixão.

  • Como posso levar as minhas aprendizagens para as minhas relações interpessoais e para a minha vida?

Não serve de nada conseguimos estar calmos, tranquilos e agir “mindfulmente” apenas quando estamos sozinhos na nossa prática. Podemos, por exemplo, escolher ouvir o outro “mindfulmente”.

Proposta: Prática Check-in

  • Escolhe uma posição e fecha os olhos.
  • Observa com curiosidade e sem julgamentos as sensações físicas presentes neste momento: a sensação física dos pés descalços no chão, o contacto da roupa com a pele, um desconforto nas costas, tensão ou relaxamento nos ombros, etc.  
  • Observa com curiosidade e sem julgamentos os pensamentos presentes neste momento. Observa como se fossem nuvens num céu azul. As nuvens vêm, ficam um pouco e vão. Observa os pensamentos da mesma forma, sem agarrá-los, sem empurrá-los, e sem te envolveres nas histórias que te estão a contar. Podem ser auto-julgamentos como “Eu não consigo fazer isto”; pensamentos em relação aos outros como também podem ser pensamentos aleatórios sobre tarefas que tens por fazer, etc. Observa apenas o aparecimento e desaparecimento desses pensamentos.
  • Observa com curiosidade e sem julgamentos as emoções presentes neste momento. Não precisas de nomear as emoções, repara apenas nelas e nas possíveis sensações físicas associadas. Talvez sentes essas emoções no peito, na barriga, etc. Observa se há uma sensação de relaxamento ou tensão, de ansiedade, de stress, de alegria, de felicidade, de paz, etc. Não há emoções certas ou erradas nem sensações certas ou erradas, observa apenas. 
  • O que mais precisas agora? Presta atenção às necessidades que surgem.
  • Volta a abrir os olhos.

“Mindfulness não é uma técnica, é uma forma de vivermos a nossa vida e de nos relacionarmos com a nossa vida.” 

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