A expressão “viver de coração aberto” pode ser interpretada de várias formas dependendo do contexto e da perspectiva de quem a utiliza. Se, para muitas pessoas, viver de coração aberto pode significar ter uma atitude de abertura caracterizada por curiosidade, interesse, flexibilidade e um certo relaxamento, para outras pessoas, viver de coração aberto pode significar ser direto e não reprimir sentimentos ou opiniões (mesmo que isso cause desconforto), não deixar nada por dizer, não se preocupar com o que os outros vão pensar, o que pode subentender uma postura mais agressiva e defensiva.
Afinal, o que se entende por viver de coração aberto?
Embora, à primeira vista, as interpretações possam parecer opostas, elas estão enraizadas no desejo de viver com autenticidade. A diferença está no modo como se interage com o mundo.
“Coração” é uma metáfora para o nosso interior mais genuíno e autêntico enquanto “aberto” sugere um duplo movimento: estar aberto de dentro para fora (quando nos expomos, mostramos quem somos, não nos escondemos) e, simultaneamente, estar aberto àquilo que vem de fora para dentro (quando damos espaço ao outro para se expor, reagir, mostrar quem é, permitindo que nos veja).
Expressões como “Ouve o teu coração”; “Age de acordo com a tua intuição”; “Para e escuta a tua voz interior” estão ligadas a esta ideia de viver de coração aberto. Para isso, é fundamental conhecer-nos melhor, compreender as nossas necessidades e o que nos traz bem-estar. Também é necessário estarmos disponíveis para encontrar caminhos rumo a essa intenção, comunicar de forma honesta e enfrentar as consequências que isso pode ter na nossa vida e relacionamentos.
Assim, estar de coração aberto e viver de coração aberto é o que nos permite, de uma forma mais clara, entender as nossas necessidades, comunicar os nossos limites de forma que os outros os respeitem, dar espaço à reação do outro, empatizando com o ponto de vista dele, vivendo a dinâmica da interdependência.
Quando comunicamos de coração aberto, permitimos que o outro também o possa fazer.
Estaremos nós a viver de coração aberto?
Viver de coração aberto não depende exclusivamente de nós. Acontece na relação, isto é, nós precisamos dos outros para realmente conseguirmos abrir o nosso coração. Quando iniciamos o nosso percurso de desenvolvimento pessoal, muitas vezes achamos que a nossa vida e o nosso bem-estar dependem muito dos outros; depois percebemos que nós criamos a nossa própria vida e bem-estar (a fase da independência); e finalmente chegamos ao terceiro nível (a fase da interdependência), quando percebemos que o nosso bem-estar e a nossa capacidade de manter ou não o nosso coração aberto acontece nessa interdependência.
A validação prática que nos diz se estamos ou não de coração aberto reside no enfrentamento com o outro, pois é aí que percebemos até que ponto conseguimos abrir o nosso coração nos dois movimentos: de dentro para fora e de fora para dentro.
Nos nossos processos de autoconhecimento, muitas vezes já temos clareza sobre aspectos importantes de nós mesmos, como: “Tenho medo disto”; “O que quero é aquilo”; etc. No entanto, ao interagir com o outro, percebemos que aquilo que é claro para nós nem sempre conseguimos tornar claro para o outro. Optamos por esconder ou evitar dizer o que temos a dizer por acreditar que não vale a pena, que o outro não vai compreender ou vai ficar chateado. E, dessa forma, recorremos novamente a defesas e armaduras. Se prestarmos atenção, conseguiremos entender os vários momentos e situações em que não estávamos de coração tão aberto como pensávamos.
Como viver de coração aberto
A qualquer momento, podemos escolher viver de coração aberto, mesmo que isso exija aprender a falar uma nova linguagem, olhar mais para dentro de nós mesmos, tratar-nos com mais gentileza e construir relações autênticas.
Algumas pessoas têm como referência experiências pessoais em que viveram de coração aberto: momentos em que conseguiram mostrar quem realmente eram, criando espaço e abertura para que os outros se mostrassem também. Mesmo em situações difíceis, experimentaram a leveza de estar de coração aberto. Para estas pessoas, torna-se mais fácil transpor essa vivência para outros contextos da sua vida.
Contudo, há pessoas que têm poucas ou nenhuma referência de como é viver de coração aberto, muitas vezes porque cresceram em famílias onde isso não era praticado, onde não tiveram a oportunidade de conhecer verdadeiramente os pais ou cuidadores. Isso pode ter resultado em dificuldades para se mostrar como realmente são: no local de trabalho (talvez porque acreditam que precisam de fazer de conta e adaptar-se ao que os outros querem); nos relacionamentos (talvez porque acreditam que se podem magoar e, por isso, é necessário proteger-se); ou até consigo mesmas (evitando a solidão a todo o custo, privilegiando distrações por medo de olhar para dentro ou falar sobre si mesmo). Para estas pessoas, viver de coração aberto pode parecer extremamente assustador.
É importante salientar que é natural que, em certas situações, tenhamos dificuldade em estarmos de coração aberto, seja por desconforto, vergonha, etc. O problema surge quando o fazemos de forma repetida, pois isso impede-nos de realizar o nosso maior sonho: mostrarmo-nos aos outros tal como somos e sermos vistos tal como somos. Em vez disso, podemos acabar por pagar o preço de viver de coração fechado, com ressentimento, arrependimento ou um sentimento de peso.
Por onde começar?
O primeiro passo é ter a intenção de viver de coração aberto. A partir daí, o próximo passo é começar a iniciar conversas mantendo o foco nos dois componentes fundamentais para viver de coração aberto:
- Vulnerabilidade e Compaixão
- Honestidade e Empatia
Ler o livro Heartfulness e ouvir o podcast Inspiração para uma Vida Mágica também podem ser fontes de inspiração e apoio nesse sentido 😉
Viver de coração aberto é abraçar o momento e vivê-lo exatamente como ele é.
Mikaela Övén
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