Quando não se tem o hábito de ter conversas sobre o relacionamento, muitas vezes pode ser difícil saber por onde começar. Partindo de 6 tipos de conversas que existem em relacionamentos saudáveis, seguem 6 pontos de partida para boas conversas – com foco especial nos relacionamentos românticos e com aplicação em qualquer tipo de relacionamento.

“Sim, gosto muito quando…”

Exemplo:

  • Gosto muito quando saímos juntos à noite.
  • Gosto muito quando és tu que tomas a iniciativa de fazer o jantar.
  • Gosto muito quando me perguntas sobre o meu dia.

Quando falamos sobre o relacionamento, temos tendência para começar por aquilo que não está a funcionar, que não está bem. No entanto, aqui a proposta é partilharmos com o outro o que gostamos naquela relação, naquilo que o outro faz por nós, naquilo que podemos fazer em conjunto. É uma validação do contributo do outro para a relação, colocando o foco em algo que é bom e positivo para nós, mesmo que no relacionamento possam existir coisas de que não gostamos. É importante que essa partilha não seja seguida de um “mas”.

É uma conversa que pode acontecer quase como um jogo de ping-pong em que uma pessoa diz uma coisa de que gosta no relacionamento e a outra diz outra, e assim sucessivamente.

“Isto para mim não está ok. Isto para mim não está bem”

Aqui não se trata de fazer acusações, mas sim de fazer uma partilha do que não está bem porque não está de acordo com as nossas necessidades, porque há necessidades nossas que não estão a ser nutridas através da forma como a relação funciona.

Exemplo:

  • Acho que deveríamos mudar de casa. Isto não está bem para mim por X razões.
  • Para mim não está bem tu chegares tão tarde porque isso não preenche as minhas necessidades de conexão contigo.

Num relacionamento saudável é essencial falar sobre aquilo que não está bem pois é um dos meios para o relacionamento poder evoluir e para as pessoas poderem sentir-se melhor. Isso surge em oposição à ausência de conversas sobre o que não está bem e que pode acontecer por várias razões: por medo do confronto, para não magoar o outro, para não chatear, porque não nos sentimos suficientes ou merecedores, porque se dissermos algo que não está bem, temos receio que o outro também vai fazer o mesmo, etc.

Muitas vezes, este tipo de conversas acontecem não de uma forma consciente mas sim porque alguém “explodiu”, podendo acontecer em situações em que não é o melhor momento para o emissor nem para o receptor ter essa conversa por estarem cansados, zangados, etc.

Neste tipo de conversa, também é importante ter um bom enquadramento para que o significado dado pelo outro seja: “Ele/a quer continuar a ter esta relação, e há coisas que não estão bem” em vez de: “Ele/a não gosta de mim, quer é acabar a relação”. Esta conversa poderia acontecer, por exemplo, após o jogo de ping-pong das coisas que gostamos, para estarmos num contexto mais favorável em vez de isolar apenas aquilo que não está bem.

“Talvez possamos experimentar…”

A proposta é sermos criativos e corajosos em relação àquilo que queremos para nós e para a nossa relação. Neste sentido, podemos propor coisas nas mais variadas áreas da relação.

Exemplo:

  • Talvez possamos experimentar viver noutro país.
  • Talvez possamos experimentar ter um animal de estimação.
  • Talvez possamos experimentar não fazer o jantar às quintas-feiras e cada pessoa em casa prepara o seu jantar.

É uma partilha com mais leveza. Por um lado, não se está a dizer que tem de ser de uma determinada forma (“talvez”), por outro é algo que pressupõe ser feito a dois apelando à parceria (“possamos”), por fim o verbo “experimentar” remete para algo que não é definitivo, que é uma experimentação.

A maneira como recebemos a informação depende em parte das palavras utilizadas e o significado que nós damos pode ser muito diferente com pequenas alterações: usar “talvez” em vez de “ter de”; “possamos” em vez de “possas”; “experimentar” em vez de “fazer”. O convite é refletirmos como nos podemos expressar de uma forma que esteja alinhada com aquilo que queremos e que aumente a probabilidade do outro compreender aquilo que queremos dizer.

“Em vez de… será que podemos…?”

Quando temos propostas específicas de coisas que queremos mudar, implementar, podemos iniciar a conversa desta forma.

Exemplo:

  • Em vez de treinares às terças de manhã, será que podemos treinar juntos às terças de tarde?

Mais uma vez, o “podemos” faz com que a proposta seja sobre nós – as duas pessoas em relação. Esta ideia, tal como as anteriores, estão dependentes da nossa intenção, havendo espaço para o outro dizer “não”.

Exemplo:

Será que a minha verdadeira intenção é conhecer melhor o outro? Aprofundar o relacionamento? Ter um relacionamento mais positivo? OU será que é mostrar que tenho razão? Mudar o outro? Acusá-lo? Se a intenção for do segundo grupo, estas formulações não irão certamente conduzir a uma relação mais saudável.

“Quando a intenção precede a ação, a ação tende a ser mais orientada.”

“Obrigado/a por…”

É uma forma de reconhecermos o contributo do outro para o nosso bem-estar. A proposta é fazê-lo de uma forma específica, mostrando de que forma o outro contribui para a nossa vida.

Exemplo:

  • Obrigado/a por me ofereceres o teu tempo para conversarmos juntos.
  • Obrigado/a por te teres lembrado de me comprar um desodorizante.

É algo que tendemos a esquecer-nos frequentemente, principalmente quando já não se está no início da relação. A proposta é jogar o jogo da gratidão, sabendo que há muitas coisas pelas quais podemos agradecer, pois nós fazemos muitas coisas uns pelos outros.

Quando começamos a agradecer os outros pelas coisas que fazem por nós, podemos começar a reparar mais na quantidade de coisas que efetivamente fazem por nós ou a pensar em nós. Também pode criar-se a predisposição para o outro querer fazer mais. Este jogo até se torna mais interessante quando estamos chateados e mesmo assim conseguimos reconhecer o outro, de uma forma genuína.

Nota: Há muitas mães e pais que se sentem esgotados porque precisavam de ouvir mais vezes esse obrigado.

“Sinto que agi de uma forma que eu não queria ter agido.”

É uma forma de assumirmos responsabilidade pelo nosso comportamento, mostrando ao outro que percebemos o impacto que isso teve. Mais do que simplesmente pedir desculpa, o importante é assegurar que o outro perceba que nós percebemos que a nossa ação teve um impacto negativo nele/a, em vez de procurarmos defender-nos, justificar-nos ou pedir desculpa só porque sim. No seguimento desta primeira formulação, podemos explicar do que se trata.

Exemplo:

  • Sinto que agi de uma forma que eu não queria ter agido. Feri a tua integridade…
  • Sinto que agi de uma forma que eu não queria ter agido. Desrespeitei as tuas necessidades… 

Isso dá a oportunidade ao outro de se sentir mais valorizado e reconhecido pela honestidade da partilha.

Notas finais

Estas 6 propostas de início de conversa podem ser combinadas e não são apenas para relacionamentos românticos. Podem ser usadas com os filhos, no local de trabalho, com amigos, com os pais, etc. Claro que não é só o início da conversa que faz a diferença, no entanto, cria um caminho, principalmente se estivermos ligados a intenções fortes para aquele relacionamento. Estas conversas podem ser fluidas e pacíficas como também podem gerar emoções que às vezes são difíceis, com avanços e recuos. Nesses momentos, a proposta é voltar ao ponto de partida com resiliência e intenções presentes.

Por fim, quando temos a sensação de que “isto não funciona”, será importante refletirmos se estamos a querer usar uma estrutura de uma comunicação mais consciente para fazer o que fazíamos antes: dar ordens, ameaçar, manipular, ter as coisas à nossa maneira, etc. A intenção aqui é sempre criar espaço para o diálogo.