O que acontece quando acreditamos que por pensarmos em algo, esse algo acontece? Que através do nosso pensamento podemos mudar o mundo dos sentidos?
O que diferencia o pensamento mágico?
Quando temos um determinado pensamento, esse pensamento tem certas consequências óbvias, ou seja, após esse pensamento surgem outros pensamentos como consequência dele. Quanto ao pensamento mágico, ele ocorre quando acreditamos que um determinado pensamento pode gerar consequências que vão além destas consequências lógicas e óbvias. Essa crença envolve a ideia de que o pensamento, por si só, pode produzir efeitos no mundo real, como se tivesse o poder de se manifestar de forma independente. Nesse tipo de raciocínio, supõe-se que certos eventos ou situações podem surgir unicamente a partir de um pensamento específico.
Exemplo:
- Eu pensei que este ano vai ser difícil, então isso vai atrair coisas más para o meu ano ou vai aumentar a probabilidade de coisas más se manifestarem.
- Se me focar muito que quero um lugar de estacionamento à porta do restaurante, esse lugar vai aparecer.
Ou seja, acreditamos na relação causa efeito em que a causa é o pensamento e o efeito acontece apenas e só pela existência daquela causa, sem nenhum intermediário.
Outra abordagem seria percebermos que o nosso pensamento foi a causa de alguma coisa, mas uma causa com um intermediário – o nosso comportamento.
Exemplo:
- Quero escrever um livro e, passado algum tempo, tenho um livro escrito. Percebo que o livro nasceu do meu pensamento, tendo depois existido o processo – comportamento – de escrever o livro.
- No exemplo do parque de estacionamento, se eu acreditar que vou ter um lugar à porta, talvez vá primeiro procurar um lugar à porta do restaurante, aumentando a probabilidade de isso acontecer.
Isso contrasta com o pensamento mágico em que acreditamos que encontramos um lugar à porta, não porque o procuramos e ele estava lá, mas porque ele passou a existir por termos pensado nisso. A ideia é que se não tivéssemos pensado nisso, o lugar não existia.
Há também quem opte por um pensamento lógico que se baseia em experiências passadas.
Exemplo:
Vou estacionar no piso -2 porque, pela minha experiência, tenho mais probabilidades de encontrar um sítio.
As experiências passadas dizem-nos que uma coisa é mais provável e, portanto, através do nosso pensamento, aumentamos a probabilidade. Neste caso, não acreditamos que o piso −2 tem mais lugares pelo facto de termos pensado nisso.
Crenças e reflexões à volta do pensamento mágico
Quando alguém acredita em pensamento mágico, poderá ser interessante perceber qual é o mecanismo que a pessoa acha que existe que cria algo a partir do pensamento. Existem diferentes crenças.
Exemplo:
Peço a Deus que manifeste alguma coisa na minha vida.
Há quem acredite que é a nossa força mental que cria algo sem nenhuma intervenção. Aliás, há quem diga que é assim que o universo funciona, ou seja, pensamos, imaginamos e isso materializa-se.
Outras pessoas acreditam que há uma força que exercemos sobre a matriz, sobre as outras pessoas, sobre a realidade, como se houvesse uma reorganização da matriz para podermos ter algo.
Exemplo:
Eu pensei tanto que queria um lugar à porta do restaurante que alguém, que tinha acabado de estacionar, lembrou-se subitamente de algo ou recebeu uma mensagem a dizer que tinha de ir a outro sítio libertando o lugar à porta do restaurante.
Às vezes, o pensamento mágico é tido como uma crença pessoal, mas de uma forma que não é falsificável, que não dá para invalidar.
Exemplo:
Eu acredito que se pensar muito, vou ter um lugar à porta do restaurante. Então eu penso, chego lá e tenho um lugar à porta. Porquê? Porque eu pensei nisso. Mas se eu chegar lá e não tiver um lugar à porta, em vez de pensar que o pensamento mágico não funciona, posso achar que o pensamento mágico não funcionou nesta situação por alguma razão que é melhor para mim, porque Deus ou o universo sabe o que é melhor para mim, porque tenho alguma coisa a aprender com isso. A ressignificação torna-se assim essencial para o pensamento mágico.
Por outro lado, com o pensamento mágico tendemos a só trazer para o consciente as coisas quando de fato acontecem.
Exemplo:
Chego à porta do restaurante e há um lugar. Quando não encontro um lugar, simplesmente estaciono noutro sítio e não penso mais nisso, ou seja, só me lembro dos momentos em que algo acontece, não tenho realmente uma análise lógica em redor desse fenómeno.
Exemplo:
Penso num amigo e, passado um tempo, ele liga. É como se me estivesse a ligar porque eu pensei nele e não como uma coincidência.
Para uma abordagem mais científica, poderíamos optar por: se calhar quando o meu amigo me telefona, eu lembro-me que tinha pensado nele, mas se ele não me telefonar, esqueço-me disso porque tive 30.000 pensamentos ao longo do dia. Portanto, para transformar isso numa experiência, sempre que penso nessa pessoa, teria de tomar nota. Só que isso não é uma experiência muito fácil de fazer e requer termos vontade de validar ou invalidar uma coisa em que já acreditamos.
Na investigação científica, sabemos que a maior parte das pessoas não quer invalidar aquilo em que já acredita, pois prefere ter ativo o viés de confirmação, isto é, quando acontece uma coisa que valida aquilo em que acreditamos, tornamo-lo relevante e quando acontece uma coisa que invalida aquilo em que acreditamos, simplesmente apagamos ou esquecemos essa coisa.
Consequências possíveis
O pensamento mágico parece, de facto, abrir uma série de possibilidades. Cria esperança e pode entusiasmar-nos: se conseguimos mudar a realidade com o nosso pensamento, então vamos pensar em coisas que são boas para nós e para os nossos, nos nossos objetivos, nos nossos sonhos, como nos queremos sentir, etc. O problema surge quando acreditamos, de uma forma estrita, que a nossa realidade está a ser gerada pelo nosso pensamento, pois quando olhamos para a nossa realidade e ela não é como queremos, podemos sentir o peso da culpa porque somos responsáveis por essa materialização.
E isso – muitas vezes presente em algumas tradições religiosas e nalgumas correntes de desenvolvimento pessoal – cria um mecanismo que, por um lado dá uma certa esperança mas, ao mesmo tempo, pode ser bastante tóxico.
Exemplo:
Penso no que quero manifestar, só que se não conseguir, vou achar que é porque continuo ligado a um paradigma anterior. Portanto, agora, não só continuo a não conseguir, como ainda me sinto culpado e fico ligado ao facto de não estar a utilizar bem o meu pensamento mágico.
Assim, combinarmos o pensamento mágico com um pensamento crítico pode trazer um bom equilíbrio. Ao usarmos apenas o pensamento mágico, podemos acabar por não aproveitarmos a magia do pensamento, porque o pensamento em si tem muita magia: todas as coisas que nós materializamos no nosso mundo nascem, de facto, de uma ideia e isso é verdadeiramente mágico. Se nos focarmos nesta ideia de que podemos imaginar qualquer coisa para depois transformá-la numa coisa prática – desenhando um plano, fazendo coisas, dando passos na direção do que queremos – isso de facto é um mecanismo maravilhoso.
A ideia do pensamento mágico às vezes ilumina a magia do pensamento.
Pedro Vieira
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