Muitas pessoas dizem não ser criativas ou não ter criatividade, podendo até ter medo de pensar de forma criativa. Essa percepção resulta muitas vezes de aprendizagens e condicionamentos sociais, culturais e educacionais. Essas influências podem inibir a criatividade de uma pessoa, mesmo que esse recurso seja natural e inerente a todos os seres humanos. Entender como esses condicionamentos são formados é fundamental para ajudar adultos a reforçar a sua criatividade e criar um ambiente favorável para que as crianças possam usar e desenvolver essa competência. 

Enquanto pais, temos muitas vezes tendência a julgar a criatividade dos nossos filhos. 

Exemplo:

Uma criança que está a aborrecer-se à mesa e que precisa de movimento começa a baloiçar-se na cadeira. Os pais podem dizer algo como: “Não faças isso”; “Põe a cadeira direita”; “Não se faz”; “Isso é uma falta de respeito”.

Outra perspetiva seria ver que a criança está a assumir responsabilidade pelas suas necessidades, neste caso de movimento, tendo sido criativo nesse processo. 
Na escola acontece o mesmo.

Exemplo:

A professora pede aos alunos para fazerem um desenho. Se uma criança fizer algo que não é considerado certo (colorir fora das linhas, desenhar algo diferente, etc) poderá ouvir que “Não é assim”; “Não se pode colorir fora das linhas”, etc. Através desta formatação, deixa-se apenas espaço para uma forma de fazer as coisas.

Também a comparação com outras crianças e a crítica por não atenderem certos padrões podem afetar a confiança das crianças fazendo com que comecem a duvidar das suas ideias e evitem explorar a sua originalidade.

Por outro lado, quando os pais ou educadores usam a culpa ou a vergonha quando as crianças usam a sua imaginação, criam-se neuroassociações que mais tarde podem ter repercussões. Isto é, se na escola a criança faz uma coisa criativa e depois é punida e ouve “Não inventes”; “Não é assim que se faz”, a criança pode associar que ser criativo é perigoso, porque a criatividade só é recompensada se correr bem ou porque a criança é premiada por fazer as coisas como lhe mandam. Isso pode resultar em adultos que optam por não ser criativos de forma a protegerem-se.

No entanto, se olharmos para o que acontece na sociedade, parece existir uma dissonância cognitiva em relação aos temas da criatividade. Nós podemos punir ou castrar a criatividade de uma criança que se quer vestir de uma forma diferente (“não é assim que se veste”), que come a comida toda misturada (“não é assim que se come”), que brinca de uma certa maneira (“não é assim que se brinca”), só que, na vida adulta, premiamos um chefe de cozinha por se ter lembrado de juntar sabores inesperados, um estilista por ter conjugado de forma criativa cores e texturas, etc. Em tantas áreas de atividade, há uma forma certa de fazer as coisas, mas depois celebramos as pessoas que quebram essa forma certa.

Adicionalmente – e tendo como pressuposto que a nossa autoestima é o nosso sistema imunitário social – se tivermos uma autoestima fragilizada, socialmente teremos tendência a não nos sentirmos imunes, sentindo-nos constantemente sob ataque e em perigo. Que melhor forma de nos sentirmos em perigo do que dizer que tivemos uma ideia nova? Propor para fazer algo diferente? Dizer que experimentamos algo e correu mal? Dizer que gostávamos de experimentar de uma outra forma? O facto de não sabermos como os outros vão reagir e o que isso diz sobre o nosso valor enquanto pessoa leva-nos a não dizer, a não experimentar, a não arriscar, mesmo quando descobrimos uma forma diferente de ser eficiente e inovador.

1 – Evitar os julgamentos mesmo em situações em que achamos que a criança está a fazer mal. Os pais podem ficar com receio de deixar a criança fazer tudo. Aqui a questão não é passar para a permissividade, mas sim não julgar a criatividade. 

    Exemplo:

    O meu filho está a ouvir uma aula online com o computador ligeiramente fechado de forma a ver a professora noutra perspetiva. Qual será a intenção de ele assistir à aula? Se calhar, é estar atento à aula. Então, posso reconhecer que ele inventou uma forma nova de estar atento à aula e olhar para o computador, tendo arranjado uma solução para o seu problema e tendo assumido responsabilidade pelas suas necessidades. Isso não significa que estou a aprovar ou a concordar. Depois de reconhecer, posso por exemplo questionar: “Assim consegues perceber o que a professora está a dizer?” Desta forma, ajudo-o a ser criativo sem envergonhá-lo ou julgá-lo.

    2 – Estimular a pessoa/criança a ter um pensamento criativo através de perguntas como: “De que outras formas poderias fazer isto?”

    3 – Reconhecer quando a pessoa/criança está a ser criativa, dizendo algo como: “Tiveste uma ideia nova. Fala-me mais sobre isso.”; “Fizeste isto, que bom!” Mesmo que pensemos que a ideia não vai funcionar. Podemos usar a ideia como ponto de partida para outras ideias; para pensar juntos.

    4 – Estar consciente deste processo em relação a nós e em relação aos outros, acionando a nossa curiosidade: “Que engraçado, estou com medo de me pôr a pensar noutras soluções e coisas diferentes”. Esse pode ser um momento para pararmos, reconhecermos o medo e nos questionarmos sobre o que podemos fazer para, mesmo com medo, fazer algo diferente.

    5 – Seguir/falar com pessoas ou estudar/ler coisas que não têm nada a ver com a nossa área ou a nossa forma de pensar também pode ajudar na criatividade.

    6 – Definir uma intenção de diversão. Quando nos queremos divertir, ficamos mais à vontade para fazer diferente. Se correr mal, pelo menos foi uma experiência e isso pode trazer bastante relaxamento.

    7 – Fortalecer a autoestima integrando a ideia de que independentemente do resultado do nosso processo criativo, temos o mesmo valor enquanto pessoa.

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