Estudar Coaching é aprender a dominar um processo altamente pragmático, dinâmico e orgânico.”   

Pedro Vieira

Imagina, por uns instantes, que a atividade de ajudar pessoas a explorarem os caminhos que lhes permitam passar de onde estão para onde querem estar não inclui indicar caminhos, sugerir caminhos ou impor caminhos. Que é como quem diz, imagina que o Coaching não permite – para ser Coaching – que o Coach opine.

Na realidade, Coaching é mesmo assim!

O que ajuda a entender, logo à partida, a existência de uma confusão enorme – no próprio mundo do Coaching e dos seus profissionais – sobre a natureza desta atividade. Claro que há muitas formas diferentes de conceber e praticar Coaching e diferentes escolas e abordagens. Em todas elas, porém, cria-se uma clara diferenciação entre Coaching e Aconselhamento. O Coach, simplesmente, não é um conselheiro.

Críticas ao Coaching

Muitas pessoas que se apresentam como Coaches, expressam-se publicamente sobretudo através de conselhos (“tu devias”) e de ordens (“tu tens de”), partilhando dessa forma as suas crenças e convicções pessoais: Nem sempre o fazem criando uma clara distinção entre este conjunto de crenças, princípios e regras (que são suas) e o seu papel enquanto Coach – que procura, precisamente, abster-se de trazer para a relação com os seus clientes aquilo que é seu.

O Coaching é também regularmente criticado como sendo baseado em clichés. Isto acontece porque muitas das tais partilhas públicas de pessoas que se apresentam como Coaches (algumas delas sendo até formadoras de outros Coaches) são de facto muito superficiais, sem base lógica e muitos menos científica. Sem a devida separação entre as opiniões da pessoa e o seu papel enquanto Coach, é fácil e até compreensível a existência dos tais ataques à superficialidade aparente dos “ensinamentos”. Ler as partilhas, textos inspiradores e exortações à ação (e à compra dos seus serviços de Coaching) por parte de alguns Coaches é constrangedor e até perturbador, pela falta de noção, de ética e de conhecimento.

Outra crítica frequente é a que aponta que o Coaching entra no domínio da Psicologia e, portanto, se não for desempenhado por pessoas com treino formal em Psicologia pode gerar danos para os clientes. Se a intervenção de Coaching entrar em domínios da Psicologia, então torna-se Coaching Psicológico – o qual deverá ser desempenhado por psicólogos. O Coaching, enquanto modelo de interação, não serve para o tratamento de perturbações psicológicas (ou de outra espécie, diga-se). Claro que estas perturbações, a existirem, se poderão manifestar numa conversa de Coaching, tal como se manifestarão numa confissão religiosa, numa conversa de avaliação de desempenho no trabalho, numa discussão familiar ou numa tertúlia entre amigos. Em todos estes casos, o profissional de Coaching (tal como o padre, o gestor de equipa, o familiar ou o amigo) poderão estimular e sugerir que a pessoa em causa procure a ajuda de um profissional de saúde! Se se aventurarem a procurar ajudar sem terem o devido conhecimento, treino ou até legitimidade/legalidade estarão a entrar num processo com consequências imprevisíveis!

O que significa então estudar e praticar Coaching?

Estudar Coaching é aprender a dominar um processo altamente pragmático, dinâmico e orgânico, em que o Coach se serve das competências da Congruência, da Observação, da Ligação e da Curiosidade e de um conjunto alargado de ferramentas de questionamento para ajudar o Cliente a ganhar clareza sobre onde está e onde quer estar, a ganhar perspetiva sobre as suas escolhas e possibilidades, e a tomar decisões sobre planos e tarefas e muito mais. Tudo isto sem o Coach sugerir ou impor, apenas facilitando o processo de exploração. De certa forma, poder-se-ia até dizer que todo o Coaching é Auto-Coaching, no sentido em que é o Cliente que faz as descobertas e avanços. Na realidade, a influência do Coach neste processo nunca é neutra, mesmo que seja essa a sua sólida intenção. Para comunicar, terá sempre de selecionar certas palavras e não outras, certas questões e não outras, o que o torna agente ativo do processo.

Usar as técnicas de Coaching como suporte a outras atividades – da Parentalidade à Liderança, da Gestão à Terapia, da Comunicação Pública ao Serviço ao Cliente – é um processo normalmente muito possibilitador e que gera maiores níveis de adesão, envolvimento e empatia. Em todos esses casos e muitos outros, o que acontece já não é Coaching. É uma utilização de técnicas de Coaching como suporte a outras atividades! É essencial – principalmente por parte dos próprios Coaches – reforçar esta diferença, sob pena de se continuar a contribuir para que cresçam as críticas apontadas anteriormente.

Este texto, por exemplo, embora tenha recorrido a alguns termos usados em Coaching, não é – de todo – Coaching! Embora sejam apresentadas ideias que têm como objetivo criar clareza ou apontar caminhos… não estamos perante uma relação de Coaching, até porque o leitor do texto nem sequer teve hipótese de se exprimir, certo?

Enquanto Coach com 15 anos de experiência, já estive muitas e muitas horas a desempenhar o papel de facilitador do processo de Coaching. É quase sempre surpreendente, precisamente por não estar dependente das minhas crenças e convicções. E também é exigente – nem sempre consigo ser neutro, acabando por influenciar de alguma forma. É um processo em que o Coach está constantemente a colocar-se em causa e a procurar manter um processo de Auto-Coaching em aberto (sobre as suas intenções e a forma como o seu comportamento se alinha com aquilo que quer entregar de si).

Procuro igualmente usar as técnicas de Coaching como suporte às minhas funções de autor, de palestrante, de formador e de influenciador nas redes sociais. Um aluno mais atento e sabedor consegue identificar e entender essas utilizações. Mais uma vez, aí já não estamos perante Coaching e sim perante utilizações de Coaching, Estas são, aliás, aquelas que estão acessíveis a quase todas as pessoas. Já o fazer Coaching, isso será só para alguns – para os que tiverem a coragem de se abster da sua inesgotável capacidade de opinar! Um desafio enorme cuja maior parte daqueles que criticam o Coaching – e de muitos daqueles que o dizem praticar – não estará disposta em enfrentar.

Continuemos a debater esta atividade e, sobretudo, a usá-la para criar mais clareza e melhores resultados nas nossas vidas!

Pedro Vieira

Coach Profissional, Palestrante, Professor ativo em cursos de pós-graduação, Trainer credenciado, Co-host do podcast “Inspiração para uma Vida Mágica”, Autor de livros de desenvolvimento pessoal.

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