Quando lidamos com grandes dilemas e escolhas emocionalmente significativas, podemos ter dificuldades em tomar decisões.

Exemplo:

  • Não sei se deveria me despedir.
  • Não sei se deveria terminar a minha relação.
  • Será que devo falar com esta pessoa para lhe dizer o que penso?
  • Será que este é o rumo certo?

Para quem está do lado de fora, pode ser até bastante óbvio que uma das soluções é muito melhor do que a outra. Só que, simultaneamente, quando olhamos para os nossos próprios dilemas, podemos sentir essa mesma divisão e não ter a clareza suficiente para saber o que fazer.

Por que é difícil decidir?

Quando o processo da tomada de decisão é nosso, dispomos de muito mais informação. No entanto, quando olhamos para o processo do outro, não dispomos de todas as variáveis que estão em jogo, não temos conhecimento de todas as necessidades em causa e nem temos de lidar com as consequências da decisão, com as emoções. É por essa razão que, às vezes, ter menos informação faz com que pareça mais simples saber qual a decisão certa a tomar.

Principalmente quando a nossa tomada de decisão envolve outras pessoas, uma das dificuldades pode advir do facto de não querermos magoar a outra pessoa.

Exemplo:

Um dos colaboradores que contratei não está a corresponder às necessidades da função, pelo que tem de sair da equipa. Só que essa pessoa talvez seja uma pessoa amiga; trabalhe há já muitos anos; tenha uma situação difícil em casa, etc.

Neste tipo de situações, o problema não é realmente a outra pessoa, o problema é nós não querermos lidar com as emoções do outro, isto é, não querermos lidar com o que nós vamos sentir quando a outra pessoa ficar triste, desiludida, protestar, etc. Neste caso, fazer algo ou não fazer satisfaz as nossas necessidades.

Exemplo:

  • Se eu despedir o colaborador, satisfaço talvez uma necessidade de segurança por ter um processo de trabalho mais eficaz com outra pessoa. 
  • Se eu não despedir o colaborador, satisfaço talvez uma necessidade de contribuir para o bem-estar dele, de ligação, etc.

Outra dificuldade na tomada de decisão tem a ver com a nossa programação de culpa e vergonha. No nosso percurso de vida, a maioria de nós teve momentos onde nos educaram com a ideia da culpa e da vergonha, e isso pode estar presente aquando das tomadas de decisões.

Exemplo:

  • Se eu despedir o colaborador, posso sentir culpa ou vergonha por ter sido a pessoa que despediu um amigo; uma pessoa numa situação de vida difícil, etc.
  • Se eu não despedir o colaborador, posso sentir culpa ou vergonha por ser uma pessoa que não consegue tomar decisões; que tem medo das situações; etc.

A culpa e a vergonha podem ser grandes motores para o nosso comportamento. E quando investigamos que necessidades estão por detrás dessa culpa ou vergonha, muitas vezes, percebemos que são as necessidades de dignidade, aceitação e pertença. 

Estratégias para tomar decisões

Na Neuro Estratégia, estuda-se processos de tomada de decisão. Um deles passa por pensar nas necessidades e no que está em causa, não só agora como também no que cada escolha vai trazer no futuro. É, no fundo, especular sobre o que poderá acontecer.

Exemplo:

Se eu decidir despedir ou não despedir o colaborador, há necessidades que são protegidas e outras que são postas em causa. Avançando por um lado ou por outro, o que vai acontecer daqui a um ano? Daqui a dois anos? Daqui a três anos? 

Isso pode ajudar-nos a entender que apesar de haver talvez um momento de quebra de conexão, eventualmente daqui a um ou dois anos, essa conexão, se for realmente forte, será restabelecida de alguma forma. 

Outra estratégia passa por nos questionarmos:

  • O que ganho em não fazer nada?
  • O que ganho em fazer alguma coisa?
  • Que necessidades estou a procurar satisfazer numa ou noutra situação?
  • Que mais opções existem?

Muito do sofrimento acontece porque o dilema é expresso como uma coisa ou outra coisa, sendo essas coisas mutuamente exclusivas.

Exemplo:

Fico com o colaborador ou despeço-o.

No entanto, podemos investigar outras opções, e quando o fazemos, raramente a opção certa é uma opção intermédia, normalmente é uma abordagem nova. É um recriar da situação a partir da informação sobre as necessidades em causa, daí a importância de ganhar clareza sobre as necessidades antes de explorar outras opções.

Exemplo:

  • O colaborador pode desempenhar uma outra função.
  • Posso fazer um acordo para ficar em part-time.
  • Deixa de trabalhar para mim mas trabalha como consultor. 
  • Ajudo-o a encontrar um sítio onde ele seja mais feliz.

Uma terceira estratégia bastante útil é partilharmos com o outro, de uma forma ecológica e consciente, que nós estamos a lidar com esse dilema, de forma a que também o outro possa participar nessa decisão. Muitas vezes, temos medo desta opção porque não sabemos falar do dilema sem acusar ou julgar o outro. Aqui o convite é partilharmos factos observáveis, o que sentimos e quais são as nossas necessidades numa determinada situação. Podemos até pedir ao outro uma proposta de solução. 

Muitas vezes, tentamos solucionar esses dilemas sozinhos antes de falar abertamente com o outro sobre o que está a acontecer. Da nossa parte, pode haver culpa e vergonha à mistura, o que requer alguma vulnerabilidade e autoconhecimento para as conversas acontecerem. Podemos também ter medo que seja doloroso, quando na realidade, é grande a probabilidade de sentirmos libertação e alívio quando comunicamos ao outro o que está presente para nós. Juntos, há a possibilidade de criar um caminho muitas vezes improvável, muito melhor do que nós sozinhos poderíamos ter imaginado.