Como seria a tua vida se dissesses “não” quando queres dizer “não”?

Aprender a dizer “não” sem culpa e com consciência tranquila é um dos passos de desenvolvimento pessoal que mais pessoas procuram.

Há poucos condicionamentos que afetam mais profundamente a nossa vida do que aquele que muitos de nós temos instalado: o de dizer “sim” aos outros mesmo quando isso significa dizer “não” a nós mesmos.

Exemplo:

  • Um colega de trabalho pediu-me para trocar de turno com ele só que eu já tinha combinado uma atividade com o meu filho e mesmo assim digo “sim” ao colega.
  • Um amigo pediu-me um favor de última hora mas eu estava prestes a chegar a casa para poder finalmente descansar um pouco e mesmo assim digo-lhe que vou ter com ele.
  • O meu companheiro atrasou-se na reunião de trabalho quando deveria estar com os nossos filhos para eu poder atender a um compromisso e mesmo assim eu acabo por, mais uma vez, adiar o meu compromisso.

Quando estamos num contexto onde nos sentimos pouco livres, começamos muitas vezes a alimentar a ilusão de que aquilo que nos prende é o contexto em si, são os outros. Pode ser no âmbito da família, das relações amorosas, dos relacionamentos sociais ou profissionais. A sensação de não ser livre é muitas vezes acompanhada da ideia de que aquilo que nos prende está fora de nós. Ora, na realidade, a única coisa que nos pode prender é a teia de pensamentos e as regras internas que instituímos e alimentamos.

Por que razão é tão difícil dizer “não”?

Os bebés e as crianças pequenas sabem facilmente dizer “não” e mostrar os seus limites, mas depois, em prol da educação, nós adultos – que fomos sujeitos à mesma programação em criança – condicionamos a escolha dos nossos filhos através da repreensão em vez da orientação. Punimos o “não” em vez de os ajudarmos a mostrarem os seus limites de forma respeitadora e saudável e também de forma assertiva e firme.

Enquanto pais, ensinamos às crianças que é mais importante satisfazer o desejo do outro do que respeitar a sua própria vontade e integridade numa determinada situação. Muitas crianças aprendem a ter medo de dizer “não” porque são castigadas, levam palmadas, são ameaçadas, são forçadas. Muitas vezes, as crianças são até premiadas quando dizem “sim” ao outro e “não” a si próprias, ou seja quando obedecem, desrespeitando, muitas vezes, a sua própria integridade por causa de uma recompensa: para receber amor dos pais, para receber uma prenda, etc.

Isso é, em si, uma programação muito forte que acontece na nossa infância e que na adolescência e na idade adulta se traduz por nós não conseguirmos dizer “não” por medo de sermos rejeitados, por medo de não sermos aceites pelo outro, etc. Por vezes dizemos “não” e sentimos culpa, arrependimento, preocupação ou medo com a reação do outro. Há, por vezes, como que uma programação que se baseia em quem é o mais forte, em quem tem mais poder (seja pela idade, pelo género, pela hierarquia, pela posição financeira, pelas crenças que nos transmitiram, etc.)

Exemplo:

Muitas pessoas são infelizes no local de trabalho. Por vezes, não querem ser tratadas de uma determinada forma, são vítimas de bullying por parte das chefias e, apesar de sentirem que a sua integridade está a ser violada quando são tratadas com desrespeito – com palavras fortes, com linguagem agressiva, quando lhes são dadas tarefas que só podem ser completadas à custa do tempo pessoal ou do tempo da família – acabam por dizer “sim” devido a uma programação muito forte dentro delas que as impede de simplesmente dizer “NÃO”. Optam pela submissão com a ideia que é assim é mais seguro (fisicamente, emocionalmente, financeiramente, etc.), assim são boas pessoas, etc.

Quando isso acontece, a ideia de que não somos suficientes é ainda mais reforçada pois achamos que uma pessoa suficiente, no nosso lugar, teria se defendido e conseguido dizer “não”. E nós, por que é que não conseguimos?

Às vezes é difícil percebermos que não conseguimos simplesmente porque recebemos esta programação em criança, que depois foi reforçada ao longo da nossa vida.

O que ganhamos em dizer “não”?

Talvez começássemos a viver em vez de sobreviver, mostrando quem somos; estabelecendo os nossos limites; dizendo “não” quando fosse para dizer “não”; manifestando-nos quando sentíssemos que não estávamos a ser respeitados; pedindo esclarecimentos quando não entendêssemos as coisas; dando a nossa opinião e contribuindo com alternativas; fazendo ouvir a nossa voz. Quem sabe se, assim, não voltássemos a sentirmo-nos bem connosco mesmos, com os outros e com a vida? Quem sabe se não voltássemos a entusiasmarmo-nos com as várias possibilidades que temos à nossa disposição?

Com o “não” vem a afirmação dos nossos limites. Quando respeitamos e defendemos a nossa integridade, estamos a mostrar quem nós somos e quais são os nossos limites pessoais de forma a:

  • Sermos capazes de dizer “não” sem culpa e com a consciência tranquila.
  • Aprender a dizer “não” para dizer “sim” à vida familiar, ao descanso, às necessidades pessoais, aos nossos sonhos e objetivos, etc.
  • Sentirmo-nos bem connosco mesmos, com os outros e com a vida.

“Aprende a ouvir os nãos de toda a gente, incluindo os teus. Aprende a dizer não.”

Pedro Vieira

Algumas dicas práticas:

  1. Lembra-te que…

que quando dizes “sim” ao outro, podes estar a dizer “não” a ti mesmo. 

2. Ensina os teus filhos…

a estabelecer os seus “nãos” de forma saudável e a respeitar os “nãos” dos outros.

3. Liga-te ao momento presente.

Quando dizes “não”, não significa que estás a rejeitar algo para sempre, pode ser apenas referente a um determinado contexto ou momento. Não quer dizer que nunca será “não”.

Exemplo:
“Agora não quero fazer esta escolha.” Mas se calhar amanhã ou daqui a uma semana podes querer.

Neste caso, podes optar por dizer: “agora não” de forma a respeitar as necessidades que estás a sentir neste momento.

Exemplo:

Relativamente ao amigo que pede um favor de última hora, posso dizer por exemplo: “Agora não posso ajudar-te, o que achas de ir ter contigo amanhã e resolvemos isso juntos?”

4. Identifica o que queres.

Quando dizes “não” a alguma coisa, às vezes pode ser interessante investigares internamente o que é que queres em vez disso para não ficares tão focado na negativa e focares-te positivamente naquilo que queres.

Há muitos momentos em que o nosso “não” pode ser interpretado pelo outro como uma rejeição, ativando nele as suas próprias insuficiências e inseguranças. Nesses casos, podemos apresentar uma alternativa, o que queremos.

Exemplo:
Quando alguém me diz: “Queres vir dar um passeio comigo?” Em vez de dizer só “não”, eu posso dar uma alternativa do que eu quero: “Hoje não, prefiro ficar a ver televisão. Queres juntar-te a mim?”.

Nota: Claro que em algumas situações é muito importante tornar a comunicação bem clara dizendo apenas: “Não”, “basta”.

Curiosidade:

Quando eu digo: “não quero algo”, para eu conseguir entender o significado da minha própria comunicação, eu obrigo-me a aceder internamente ao conceito daquilo que eu não quero.

Exemplo:

Se eu disser: “não quero ter dívidas.” Para eu entender isto, o meu sistema vai buscar uma memória, uma imagem daquilo que para mim é uma dívida. Muitas vezes, isso não é um processo saudável porque não é isso que eu quero. O que eu quero é ter abundância financeira. Da mesma forma quando digo: “não quero ter dívidas”, a seguir eu posso começar a ficar preocupado. No entanto, se eu disser: “quero ter abundância financeira” é mais fácil eu construir um plano de ação tendo por base o que eu posso fazer para ter abundância financeira.

Só que às vezes eu quero mesmo ativar aquilo que eu não quero.

Exemplo:

Se eu digo: “eu não quero que abusem de mim”. Eu quero mesmo sentir o que é ser abusado para dar mais força a isso e saber melhor me defender a seguir.

Resumindo, é fundamental falares do que queres em vez de te limitar ao que não queres e existem também algumas situações onde é importante falares daquilo que não queres para clarificar o que está mesmo a acontecer, para entenderes melhor qual é o ponto de partida e até para perceberes melhor as consequências de ir por esse caminho. Tendo isso bem claro e sabendo então o que não queres, torna-se mais fácil fazer a transição para aquilo que queres e caminhar nessa direção.

5. Explora melhor os teus “nãos”

Explora os teus “nãos” e os “sims” que dizes quando na verdade queres dizer “não”. Ou os “nãos” que dizes embora quisesses dizer “sim”. Podes olhar para as várias oportunidades e possibilidades e conseguir assim em consciência entender o que é mais ecológico para ti, o que é que te permite sentir realmente melhor contigo e com quem tu és para te tornares cada vez melhor a discernir quando é para dizer “sim” e quando é para dizer “não”.

Aqui vão algumas perguntas que te podem ajudar:

  • Que “sims” é que dizes aos outros (na tua vida; no teu dia-a-dia; neste momento) que significam “nãos” para ti?
  • Que “nãos” é que precisas dizer? (relativamente a hábitos que tens, a pessoas, a pedidos, a situações, a crenças, a preconceitos, etc.)
  • Em que é que acreditas, nesta situação, que te impede de dizer “não”?
  • O que podes aprender ao dizer “não”?
  • O que te impede, dentro de ti, de agir de acordo com quem realmente és e o que realmente queres?
  • Se tu conseguisses dizer “não” sem culpa, o que é que mudava na tua vida?

E se depois de identificares os teus “nãos”, te questionares…

 “E agora como faço isto?”; ”porque é tão difícil para mim dizer não?”; “como posso dizer não sem ser de forma agressiva?”; “como posso aprender a mostrar os meus limites de uma forma ecológica e saudável ?”


… então aprender mais sobre Neuro Estratégia pode ser o caminho a seguir. Esta é uma abordagem criada por Pedro Vieira (www.pedrovieira.net) que te permite beneficiar das técnicas e estratégias de Coaching, PNL, Mindfulness, Hipnose, Modelos Mentais, entre outras, para criares as tuas próprias estratégias para aprenderes a dizer “não” sem culpa e com a consciência tranquila.