“Nós estamos sempre motivados para fazer aquilo que estamos a fazer.”

PEDRO VIEIRA

Citando Pedro Vieira, a motivação é o motivo para a ação, isto é, o motivo que nos leva a fazer algo. Com base nisso, podemos então afirmar que estamos sempre motivados para fazer alguma coisa e que o nosso comportamento mostra-nos para o que estamos motivados.

Exemplo:

  • Se alguém está muito calado, pode dizer-se que aquela pessoa está motivada para estar calada, logo deve ter um conjunto de motivos que sustentam o estar calado.
  • Se alguém está a falar muito, pode dizer-se que aquela pessoa está motivada para estar a falar muito, logo deve ter um conjunto de motivos que sustentam o falar muito.

No entanto, às vezes dizemos algo como: “não me sinto motivado”; “estou desmotivado”; “aquela pessoa tem uma baixa motivação”. Sabendo que a motivação está sempre a acontecer e é específica, é possível compreender que, neste caso, podemos é estar muito motivados para fazer uma coisa e pouco motivados para fazer outra coisa.

Noutros casos, dizemos, por exemplo, que não nos sentimos motivados no trabalho ou que os nossos filhos não estão motivados para estudar. Tal como sugerido anteriormente, o que pode estar a acontecer é estarmos mais motivados para outras coisas que não essas.

Exemplo:

Uma criança pode não estar muito motivada para fazer os trabalhos de casa e estar altamente motivada para jogar jogos ou estar com os amigos.

“Todas as pessoas são motivadas e estão motivadas para fazer aquilo que estão a fazer, isto é, nós agimos quando o motivo é suficientemente forte.” 

Pedro Vieira

Quando a nossa motivação para algo é baixa, significa que o motivo que temos para desempenhar aquela ação é um motivo que não tem um significado muito forte para nós. Pelo contrário, quando dizemos que a nossa motivação é alta (para ganhar dinheiro, falar em público, praticar exercício físico, seguir uma dieta, ir a uma entrevista de emprego, etc.), o que estamos a dizer é que o motivo que temos para desempenhar aquela ação é forte e importante para nós.

Assim, ao aceitarmos a ideia que estamos sempre motivados – sem nos julgarmos ou identificarmos (a nós ou aos outros) como sendo uma pessoa desmotivada – podemos mais facilmente redirecionar a nossa energia (e a energia dos outros) e encontrar os motivos que vão possibilitar determinadas ações. 

Como motivar os outros?

Exemplo:

O meu filho não está motivado para fazer os trabalhos de casa e está altamente motivado para jogar jogos vídeo.

Tendo em conta que a motivação é nossa, isto é, que o motivo para agir é nosso, podemos facilmente perceber que não interessa tanto o “devias estudar mais”; “tens de fazer isso”; “és um preguiçoso” ou “estás desmotivado”, mas sim entender se ele tem ou não um motivo suficientemente forte para fazer os trabalhos de casa.

Assim, em vez de chatearmos os outros para eles fazerem coisas que nós gostássemos que eles fizessem, podemos observá-los e fazer-lhes perguntas de forma a entender quais são os motivos –  conscientes ou inconscientes – para a ação que estão a ter. Só assim, será possível exercermos uma influência positiva.

Exemplos:

  1. No local de trabalho, chegou um novo colega e um colaborador não está com vontade de se relacionar com aquela pessoa, não tem nenhuma motivação em especial para criar um ambiente saudável para aquela nova pessoa. No entanto, enquanto líder de equipa, como eu sei que um motivo forte para este colaborador é ele um dia ser promovido, eu posso influenciar positivamente da seguinte forma: “Sabendo que a promoção é um objetivo forte para ti, aprender a integrar novas pessoas é um comportamento que te vai ser muito útil quando tiveres uma posição de chefia, talvez possas aproveitar para treinares com esta pessoa.” Ao aceder a um motivo que é dele, torna-se mais interessante para ele desempenhar a ação.
  • No caso de uma pessoa viciada em jogo. Eu posso olhar para ela como sendo uma pessoa altamente motivada para jogar. Em vez de julgar a ação dela (jogar), eu posso procurar entender os seus motivos conscientes:
    Quando está a jogar, não tem de pensar nos problemas que tem em casa.
    Quando está a jogar, sente a adrenalina de não saber o que vai acontecer a seguir.
    E posso investigar também alguns motivos inconscientes, algumas coisas que a própria pessoa pode não se aperceber e que me permite redirecionar essa energia para outra coisa mais saudável.
  • A nível profissional, quando lidamos com uma equipa de colaboradores, partimos muitas vezes do princípio que os colaboradores têm de estar motivados porque isso é o trabalho deles; porque ganham muito dinheiro, etc.
    O que acontece é que, muitas vezes, reparamos que algumas pessoas não estão motivadas. Então, se a nossa intenção é ter uma equipa altamente motivada, em lugar de só cobrar a motivação do outro, podemos procurar entender o que é que o motiva para depois ligarmos isso com os objetivos da empresa, as vendas, a estratégia em curso, o empenhamento, etc.

Claro que, para isso, temos de conhecer os motivos de cada um, temos de perguntar, explorar, temos de ser curiosos relativamente aos motivos dos outros.

✍️ Nota importante:

Quando queremos motivar alguém para algo, a nossa intenção principal não pode ser “quero que o outro faça o que eu quero” pois quando os outros se sentem manipulados, perdem toda a motivação. A nossa principal intenção só pode ser de conexão e de entendimento. Isto não é então igual a dizer algo como: “Se fizeres isso, eu vou ficar-te muito reconhecido ou vou gostar tanto de ti.” Isso seria apenas chantagem.

“A capacidade que uma pessoa tem de motivar a outra depende também da qualidade da relação que as pessoas têm, por isso é que tantas vezes isso falha.”

Pedro Vieira

Exemplos:

  • Dar um prémio, um bónus ou um aumento salarial pode induzir um aumento de motivação. No entanto, esse motivo para a ação pode ser temporário e o efeito durar pouco tempo. Se a relação/comunicação com a chefia e/ou no seio da equipa não for saudável, ao fim de algum tempo isso não servirá mais de motivação.
  • Ameaçar que vou despedir um colaborador se não fizer algo ou ameaçar um filho que não vai poder jogar online se não fizer algo, a curto prazo pode funcionar porque conseguimos aumentar a motivação para desempenhar uma determinada tarefa, no entanto, é muito provável que a relação seja afetada negativamente.
    Queremos mesmo que o colaborador ou o nosso filho faça algo por MEDO (de ser despedido, de sofrer consequências, etc.) ou porque isso está alinhado com os seus motivos, e, por isso, satisfaz as suas necessidades psicológicas? Como isso vai afetar a relação que temos com o nosso filho / com o colaborador / o companheiro/a, etc.? Como é que nós nos vamos sentir depois disso?

Algumas dicas práticas:

  1. Observa o teu filho/a, companheiro/a, chefe, cliente, etc. e parte do princípio que essa pessoa está altamente motivada para fazer aquilo que está a fazer. O que descobres?
  2. Sabendo que estamos sempre motivados para algo, explora qual é a motivação do outro e quais as necessidades psicológicas que estão a ser satisfeitas através disso (quer sentir-se reconhecido, visto, estimulado, seguro, conectado, etc. ?)
  3. Conhecendo os motivos do outro, podes então exercer uma influência positiva para ajudar a outra pessoa. Ao usares o motivo da outra pessoa, estarás a ajudá-la a sentir-se mais motivada novamente.

Exemplo:

Pergunta: “O que te motiva a fazer exercício físico?”

Resposta: “Sentir-me bem comigo, mais calmo e com mais energia.”

Influência positiva (por exemplo, quando a pessoa está a dizer que está sem vontade ou com preguiça – isto é, motivada para a preguiça): “Sabendo que algo que te motiva imenso é sentires-te bem contigo, mais calmo e com mais energia para o teu dia-a-dia, parece que ir treinar vai ser uma excelente oportunidade para te sentires como te queres sentir.”

  • Em vez de cobrar os outros pela falta de motivação, podes também escolher motivar-te a ti para propor uma determinada atividade, conversa, etc. que sirva para satisfazer a(s) necessidade(s) psicológicas do outro.

Como me motivar?

Por vezes achamos que o outro é que nos vai motivar, que a motivação é algo externo a nós. Isso é o que nos leva, por exemplo, a assistir a palestras motivacionais, a procurar motivação junto de um amigo, do chefe, do companheiro/a, etc.

No entanto, já percebemos que a motivação é nossa e está sempre presente. Podemos então, sem nos auto-julgarmos, olhar para as nossas ações e perceber que o que quer que seja que estamos a fazer serve um conjunto de motivos.

Exemplo:

Tenho uns papéis por preencher e estou há várias semanas a adiar isso. Em vez de me julgar e dizer que sou preguiçoso, etc., eu posso ter presente que existe um conjunto de motivos que fazem com que seja mais fácil para mim adiar do que tratar da papelada.

Quais são esses motivos?

É porque enquanto não trato da papelada, posso aproveitar para descansar no sofá ao chegar a casa?

É porque algumas alíneas vão necessitar de alguma reflexão ou pesquisa e estou a evitar lidar com a frustração?

De alguma forma, todos os nossos comportamentos satisfazem as nossas necessidades psicológicas do momento (sentir-me mais seguro; mais disciplinado; mais tranquilo, reconhecido, estimulado, etc). Há sempre uma necessidade por detrás da motivação.

E enquanto as nossas necessidades estão preenchidas através de uma determinada atividade ou de um determinado papel que desempenhamos, estamos altamente motivados para manter esse papel ou para desempenhar essa atividade.

Exemplos:

  • Eu trabalho numa empresa onde me sinto reconhecido, estimulado, seguro e conectado através do que faço, da minha função, etc. Por isso, enquanto essas necessidades estão satisfeitas, eu continuo motivado para desempenhar um determinado papel nessa empresa.
  • Hoje em dia observamos que muitas crianças têm uma grande motivação online. Isto acontece porque essa atividade preenche as suas necessidades psicológicas de tal forma que se pode tornar viciante.

“As necessidades psicológicas que cada um de nós tem para preencher são, no fundo, os nossos motivos para a ação, são as razões pelas quais encontramos motivos para agir.”

Pedro Vieira

No entanto, é bom aprendermos também a olhar para a nossa motivação como um sinal.

Exemplo:

  • Se eu acordo de manhã e estou muito pouco motivado para ir trabalhar e isso acontece muitas vezes.
  • Se todos os dias eu arranjo desculpas para não ir ao ginásio.
  • Se eu estou muito pouco motivado para falar com a minha companheira e isso acontece muitas vezes.

Isso pode ser um sinal muito forte que as nossas necessidades psicológicas não estão a ser satisfeitas através daquele meio e que:

  • se calhar é para encontrar um trabalho diferente ou falar na minha empresa sobre um outro tipo de tarefas que eu poderia desempenhar.
  • se calhar não é para ir ao ginásio mas sim para arranjar outro tipo de exercício que seja mais motivador;
  • se calhar é para ter uma conversa séria sobre a relação e para onde ela está a ir.

Às vezes, deixamos arrastar a situação ao ponto de estarmos confortáveis com o facto de estarmos pouco motivados com uma coisa que fazemos. Há pessoas que passam a maior parte do tempo a fazer coisas que não as motivam em nome de regras e de crenças como: “eu tenho de trabalhar nalguma coisa”; “trabalho não é diversão”; “o trabalho custa”; “os relacionamentos são assim”; “já não tenho idade para fazer exercício físico”, etc., habituando-se a viver pouco motivadas.

No fundo, estão motivadas para estar pouco motivadas, conformando-se em fazer coisas que não as motivam muito… certo? 🙂

Algumas dicas práticas (para a auto-motivação):

  1. Pega em papel e caneta e escreve quais são os motivos mais fortes para ti. O que é realmente importante para ti? Que necessidades tens para preencher? De que forma isso está presente agora na tua vida?
  • Depois disso, reflete sobre quais as coisas que não estão alinhadas com isso, razão pela qual estás pouco motivado para essas coisas.
  • Questiona-te sobre o que poderias fazer diferente agora tendo em conta o que é importante para ti.

Se descobrires uma coisa que é simultaneamente importante – porque gera um determinado tipo de consequências na tua vida – só que estás pouco motivado para desempenhar essa tarefa (arrumar a casa, tratar das finanças pessoais, cortar a relva, fazer as compras, etc.), podes:

  • Explorar que outros motivos para a ação não estás a explorar e que podem te ajudar a entrar em ação mais naturalmente.
  • Delegar essa tarefa a outra pessoa ou contratar alguém que faça isso. Por vezes, é mais fácil assumir, por exemplo, que durante 3 meses não fazes determinada coisa, arranjas alguém que faça ou pagas a alguém e deixas de lidar com essa falta de motivação.

Estas propostas são a chave para que no futuro possas sentir-te mais motivado e resgatar o poder da motivação através de mudanças que podem ser externas (mudar de trabalho; de função; viver para outra cidade, etc.) ou internas (aprender a relacionar-te de uma forma diferente com uma situação para te sentires mais alinhado, etc.).

Em resumo, se compreendermos melhor os nossos motivos para a ação e os motivos para a ação dos outros, podemos possibilitar algumas transformações que permitem satisfazer as necessidades psicológicas e assim promover o nosso bem-estar e o bem-estar dos outros.

E claro, sendo a motivação um dos temas mais procurados na área do desenvolvimento pessoal, não poderiam faltar várias opções para aprofundares o teu conhecimento a este respeito 😉

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