Coração acelerado, tremores, corar, gaguejar, transpirar, entrar em pânico, esquecer o que se vai dizer a seguir… estes são alguns dos desafios que podemos experienciar quando falamos em público e que nos levam, muitas vezes, a sentir grande desconforto ou até medo de o fazer.

O que é falar em público?

Falar em público não é necessariamente ir para cima do palco ou dar uma palestra para uma grande audiência. Também pode ser:

  • Fazer uma apresentação numa reunião de trabalho.
  • Ir à escola do filho falar sobre uma questão em particular.
  • Fazer uma pergunta ou partilhar uma opinião durante uma reunião de família, de trabalho, na escola, etc.
  • Falar com um cliente, fornecedor, etc.
  • Conversar com o filho/a, companheiro/a, familiares, amigos, etc.

Poderíamos começar por falar em técnicas, no entanto, do ponto de vista do desenvolvimento pessoal, o que nos interessa mais é perceber o que está presente para nós quando lidamos com a experiência de falar em público, com a experiência de imaginar-nos a falar em público ou ainda com a experiência de nos prepararmos para falar em público.

Quais são os desafios? Quais são os receios? Quais são os desejos? Quais são os objetivos? De que é que temos medo? O que podemos ganhar em confrontar essas coisas todas?

Por que razão falar em público pode ser tão desconfortável ou difícil?

Ao mesmo tempo que pode ser uma oportunidade para nos sentirmos ouvidos e reconhecidos, falar em público também pode desafiar a nossa autoestima, pois entra em ação:

  • Auto-julgamento e pensamentos de insuficiência;
  • Medo que não gostem de nós;
  • Medo de sermos julgados (“não sabe do que está a falar”; “é estúpido”)
  • Medo da opinião dos outros;
  • Medo de sermos insuficientes;
  • Medo de não nos lembrarmos de tudo o que é para dizer;
  • Medo de errar;
  • Medo de não estarmos suficientemente bem preparados.
  • Etc.

Há quem simplifique o medo em dois grandes medos existenciais:

  • Medo de não ser amado (a forma como os outros pensam e sentem em relação a nós)
  • Medo de não ser suficiente (quando sentimos que alguma coisa está em falta em nós.)

Exemplos:

Fico muito atrapalhado quando exprimo a minha opinião perante os meus colegas porque tenho medo que não gostem de mim, que não me reconheçam, que me rejeitem.

Fico inseguro quando preciso de fazer uma apresentação sobre um tema específico porque tenho medo de errar, de dar-me conta que não estou à altura da tarefa.

Autoestima VS Autoconfiança

Muitas vezes, o treino para falar em público não se foca na autoestima mas sim na autoconfiança, isto é, no facto de ganharmos autoconfiança através do estudo e especialização num tema específico para nos expormos, para darmos a nossa opinião, para entregarmos uma mensagem. No entanto, podemos ter autoconfiança para falar sobre um determinado assunto e não conseguir, com calma e tranquilidade, receber o feedback, as opiniões, os comentários e as perguntas que nos são feitas sem nos defendermos, sem atacar, sem ficarmos irritados, assustados, inseguros, etc.

Por isso é que é tão importante cuidarmos também da nossa autoestima para falar em público. Se tivermos uma autoestima sólida, isto é, se gostarmos de nós independentemente daquilo que fazemos e dos resultados que obtemos, estamos preparados para falar em público, independentemente de como correr.

“Se eu aceder à minha autoestima, eu vou ter coragem de ser vulnerável.”

Mikaela Övén

Por outro lado, se nos focarmos apenas na autoconfiança, corremos o risco de perder autenticidade na nossa forma de passar a mensagem, recorrendo a um conjunto de máscaras e de técnicas encenadas que nos impedem de mostrar quem realmente somos.

Exemplo:

Eu posso subir para cima do palco e usar um tom de voz diferente do que habitualmente uso, com gestos e palavras que não são os que habitualmente uso mas que memorizei e encenei.

Como encontrar a nossa voz?

“Onde quer que estejas, sê a alma desse lugar”

Rumi

Para ser a alma de um lugar, não podemos querer pôr uma máscara que nos impeça de sermos nós próprios, fazendo algo construído e encenado, falando, por exemplo, de uma forma muito diferente daquela que falamos habitualmente, usando um tom de voz ou palavras que nos disseram que deveríamos usar ou imitando fielmente alguém.

Pelo contrário, quando sentimos que estamos a ter a nossa voz, tudo é mais fluido, há uma sensação de maior presença, sentimos que a voz acontece através de nós. E não são só os grandes palestrantes que podem ter esta experiência, é uma experiência que podemos ter a conversar com outra pessoa quando deixamos fluir as coisas através de nós e sentimos que essa é a nossa voz.

Podemos obviamente modelar alguém, fazer como a pessoa faz, aprender técnicas que nos ajudam, no entanto é fundamental encontrarmos também a nossa forma de passar a mensagem, sem ser uma simples reprodução ou imitação de outras pessoas.

As palavras podem não ser muito diferentes, a mensagem pode ser muito semelhante e mesmo assim a forma de passar a mensagem é pessoal e vem de dentro de cada um de nós. Resulta do que aprendemos, das conversas e das experiências que tivemos e que são únicas e pessoais. Essa é a razão pela qual não conseguimos fazer como o outro faz, assim como o outro não consegue fazer como nós fazemos.

Exemplo:

Uma pessoa pode saber muito de parentalidade, de saúde, etc., mas não tem a minha experiência humana, os meus pensamentos, os meus sentimentos relativamente a esse assunto… e vice-versa.

A nossa experiência subjetiva humana é o que torna a nossa experiência absolutamente única fazendo com que a nossa voz não possa ser duplicada. Não são as técnicas ou os truques que nos dão isso (quantos slides uso; onde devo estar no palco; quanto tempo devo falar, etc). As técnicas também são importantes, sobretudo quando queremos chegar a um nível de performance muito alto, mas, para iniciar, esse não deve ser o foco. Se começarmos por aí, é bem provável que corra mal pois podemos nos focar mais no que é artificial e menos no que é a mensagem, naquilo que vem de dentro.

Quando usamos a nossa voz, criamos espaço para os dois medos existenciais anteriormente referidos: o medo de não ser amado e o medo de não ser suficiente. Pelo contrário, quando recorremos a máscaras e a conteúdos de outros, podemos fazê-lo para nos proteger, só que, simultaneamente, estamos a aumentar o poder que esses dois medos têm sobre nós. E essas armaduras que no início apresentam apenas uma camada, começam a ganhar cada vez mais camadas até não conseguirmos perceber qual é de facto a nossa voz e o que é importante para nós.

“Quando eu confronto os medos, oferecendo-lhes espaço, os medos deixam de ter tanto poder sobre mim.”

Alguma dicas para encontrares a tua voz:

1.Usa a mente de principiante quando estás à procura da tua voz, isto é, esquece as outras vozes e fala a partir de ti como se fosse a primeira vez que abordas o tema em questão. Observa o que acontece.

2.Reflete sobre qual é a tua mensagem, sobre o que queres dizer e sobre a diferença que queres ser na tua família, na tua empresa, naquela reunião de trabalho, no mundo, etc.). Aprende a falar sobre o que TU acreditas, a partir de um sítio que é único e pessoal, onde és TU de forma autêntica e vulnerável.

3. Se achas que não consegues encontrar a tua voz, se tens medo ou se alimentas a ilusão que há pessoas que são mesmo boas a fazer isso de forma inata, questiona-te:

  • Como te sentiste quando deste a tua opinião ou fizeste a apresentação?
  • Como isso te faz sentir agora?
  • Que tipo de pensamentos tiveste nessa altura?
  • Como é que te relacionas com isso?
  • O que é realmente importante para ti?

E se quiseres, podes mesmo escrever, em poucas palavras, qual é a tua mensagem.

Estas perguntas permitem conectar-te com a tua experiência subjetiva, com os teus pensamentos e sentimentos, isto é, com a tua voz.

4. E se continuas a achar que não tens uma voz, então fala sobre a experiência de achares que não tens uma voz, de teres dúvidas em relação a qual é o próximo passo, sobre os sentimentos que estás a ter agora (fúria, raiva, amor, compaixão, etc.).

“Quando nós encontramos a nossa voz, ajudamos as outras pessoas a conectarem-se com a sua própria voz.”

Não é tão interessante contarmos a história de outra pessoa, mas sim contarmos, na primeira pessoa, a nossa história, o que nós fizemos, pensámos e sentimos. Isso é o que permite às outras pessoas conectarem-se com a voz delas.

Técnicas para falar em público

Depois de encontrarmos a nossa voz, podemos começar a explorar técnicas e estruturas que nos permitem chegar às pessoas com eficiência, de uma forma que faça mais sentido para os outros, aprendendo a comunicar de forma inspiradora e envolvente. Aqui vão algumas dicas.

  • Devo usar powerpoint? Como usar notas discretamente?

Quando se usa Powerpoint como guião, a luz, a cor e o brilho tendem a atrair o olho humano o que faz com que, muitas vezes, as pessoas da audiência se distraiam e o foco vá para o powerpoint e não para o orador – quebrando a ligação com o orador.

Se queres realmente usar um guião, fá-lo de uma forma explícita (usando um caderno ou folha). Não há problema em usares notas a não ser que tu acreditas que seja um problema pois o problema só existe na cabeça do orador. Pelo contrário, se tentares recorrer às tuas notas de forma dissimulada, isso pode ficar esquisito, principalmente quando as pessoas reparam. Se aceitares que as notas são uma ajuda, sentir-te-ás mais tranquilo. Podes até falar abertamente sobre isso dizendo algo como: “Tenho aqui umas notas que tirei e que gostava de vos passar nos próximos 30 minutos.”

  • Como manter o público interessado?

Não podes controlar o contexto em que estás e a reação da audiência. No entanto, podes escolher entrar no lugar do público, isto é, imaginar que estás sentado na audiência ou no lugar do teu interlocutor. É algo que podes fazer antes da conversa ou apresentação e também durante a própria conversa ou apresentação através das perguntas: “Se eu estivesse a assistir, o que eu gostava que acontecesse?”; “Se eu estivesse sentado no lugar da audiência ou no lugar deste colega para quem estou a falar, o que eu estaria a sentir?” Quando usamos essa técnica chamada “posição percetual”, podemos descobrir que estamos a utilizar meios que não são muito eficientes.

Exemplo:

Estou a utilizar uma apresentação powerpoint com imensos slides e muita informação. E quando me imagino a entrar no lugar do público e a olhar para esta apresentação, eu posso achar que está a ser uma seca; que eu não consigo reter 10% da informação que está a ser apresentada; que preferia ter menos informação, ouvir algumas histórias, ter algum humor pelo meio, etc. No fundo, nós sabemos o que mantém o público interessado pois nós sabemos o que nos mantém a nós interessados.

  • Como não tremer quando falo em público?

Nós não trememos de forma consciente, é um processo totalmente inconsciente. E como qualquer processo inconsciente, depois do processo estar a acontecer é muito difícil controlá-lo ou alterá-lo. Por isso, em vez de evitar tremer ou parar a tremedeira, podes atribuir um significado positivo à tremedeira. Em vez de pensar “se estou a tremer é porque estou nervoso e se estou nervoso, isto não vai correr bem”, podes dizer algo como: “eu estou a preparar-me, daí esta vibração”; “esta vibração significa que eu já estou preparado, que vou fazer uma apresentação com paixão, que tenho energia à minha disposição”. O facto de dizeres que estás a vibrar é em si mais possibilitador e permite-te ter mais recursos à tua disposição.

  • O que fazer para não corar?

Tal como no exemplo anterior, nós não coramos conscientemente, é um processo inconsciente. Por isso, em vez de evitar corar, podes escolher ficar tranquilo com o facto de corar e, se isso acontecer, podes dar um significado positivo: “quer dizer que o meu inconsciente está envolvido com este momento, que ele reagiu a esse momento.” E lembra-te que o facto de corar só se torna um problema se isso se tornar um problema para ti. Se tu ficares vermelho e mesmo assim continuares com a apresentação ou incluir isso com naturalidade no teu discurso dizendo algo como: “essa pergunta foi tão poderosa que eu até fiquei corado”, isso não se transforma num problema para a audiência.

Nota:

O grupo tende a atribuir às coisas o significado que o orador está a atribuir.

Exemplo:

Se durante a minha apresentação tocar um alarme, se o projetor que estou a utilizar deixar de funcionar; se a luz for abaixo; se eu tropeçar; se eu gaguejar, se eu me esquecer do que ia dizer a seguir, se eu escolher continuar a fazer a apresentação, as pessoas rapidamente vão esquecer que aquele momento aconteceu. No entanto, se eu me mostrar perturbado, se ficar distraído, as pessoas vão atrás da minha preocupação. O grupo só reage se o orador reagir, as coisas só se tornam relevantes se nós lhe dermos relevância.

Podes até brincar com isso: “Estou tão entusiasmado que me esqueci do que ia dizer a seguir”.

  • Como ficar desinibido?

Se não estamos desinibidos ou à vontade é porque estamos provavelmente tensos e quando transportamos essa tensão para cima do palco ou para uma conversa, ela impede que a nossa mensagem seja fluida ou chegue ao outro de uma forma relaxada e tranquila.

É natural sentirmos tensão e inibição quando estamos à frente de um grupo pois estamos a lidar com os dois medos existenciais. Que significado damos a isso?

Se eu pensar algo como: “estou inibido, eu não vou conseguir fazer um bom trabalho, eu não vou conseguir explicar, eu vou ficar atrapalhado, isto não vai correr nada bem”, atrás da inibição vem mais inibição, atrás da tensão vem mais tensão.

Se, pelo contrário, eu der um significado positivo: “Significa talvez que não estou muito à vontade porque não estou muito preparado mas quando começar a falar de certeza que vai melhorar”; “é natural eu estar inibido e aquilo que vou dizer é suficientemente importante mesmo se estou inibido”, terei a oportunidade de relaxar um pouco.

O relaxamento não precisa ser um objetivo “eu tenho de estar relaxado!” pois isso causaria ainda mais tensão. Trata-se simplesmente de aceitar a tensão, a inibição, o facto de não estar muito à vontade. Isto é um paradoxo porque quando eu aceito que não estou muito à vontade, eu fico mais à vontade. Quando aceito que estou inibido, eu começo a ficar mais desinibido. E posso verbalizar isso aos outros dizendo algo como: “Eu não estou muito à vontade a falar e hoje quero falar-vos sobre um tema que é importante para mim”. Essa afirmação feita com mais naturalidade cria espaço para me sentir mais à vontade e desinibido.

  • Uma técnica que vale ouro:

Para acederes a recursos que são importantes para ti num determinado momento, experimenta o seguinte: “Respira como respirarias se”…

  • fosses o melhor palestrante do mundo;
  • tivesses muito à vontade;
  • te sentisses muito tranquilo;
  • estivesses muito confiante;
  • toda a gente te adorasse;
  • esta fosse a melhor palestra que estivesses prestes a fazer”.

E depois respira dessa forma deixando que o teu corpo se adapte à tua respiração. A respiração é um poderoso ativador de estados emocionais. E quando colocamos a atenção na nossa respiração, naturalmente acontecem algumas alterações – a respiração torna-se mais lenta, mais pausada, mais profunda, etc. – que nos ajudam a mudar a nossa predisposição física.

Por fim, lembra-te que o treino e a repetição são fundamentais, são a chave para ficares mais à vontade para falar em público. Não podes treinar só 2 ou 3 vezes e querer fazer como se tivesses falado em público umas 100 vezes, pois não? Treina em qualquer sítio, em qualquer situação porque, já sabes, estás sempre a falar em público 😉

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