Vamos abordar a estrutura “se/então”, compreender as regras implícitas e explícitas que utilizamos na nossa vida e que seguem este padrão, como algumas destas regras são altamente lógicas e outras completamente irracionais, quais as suas implicações e como é interessante aprender a observá-las, isolá-las e questioná-las.
Entender a estrutura “se/então”
A estrutura linguística “se/então” é uma proposta lógica: se uma determinada condição ocorrer, então resultará numa determinada consequência. É uma estrutura que usamos frequentemente no nosso dia a dia e que envolve compreender relações de causa e efeito. Esta estrutura é, por exemplo, bastante comum na parentalidade. Ela também surge muitas vezes na forma negativa: “se não/então”, frequentemente usada como ameaça em famílias e escolas.
Podemos observar três níveis desta estrutura:
1. Nível lógico – Relações de causa e efeito que podem ser observadas diretamente.
Exemplo: Se sair à rua de tronco nu a 0ºC, então vou sentir frio.
2. Nível arbitrário – A relação faz sentido apenas se adicionarmos pressupostos.
Exemplo: Se for completamente honesto, então posso ficar em perigo e sair prejudicado. (Este pensamento baseia-se em pressupostos, como: se for honesto com alguém que deseja prejudicar-me, então posso sofrer as consequências.)
Nestes casos, se não verbalizarmos os pressupostos que fazem com que a regra faça sentido para nós, ela poderá entrar noutras áreas da nossa vida.
Exemplo: Posso viver essa regra com alguém que é para mim um aliado, que faz tudo para eu estar bem, no entanto, não vou ser completamente honesto com essa pessoa por causa da regra.
3. Nível irracional – Não há qualquer lógica real na relação de causa e efeito.
Exemplo: Se não tiver muito dinheiro, então ninguém me vai valorizar.
Se te portares bem, então poderás ir jogar à bola.
Superstições: Se não vestir a camisola do meu clube, então ele vai perder.
Ao não questionarmos estas relações de causalidade, elas podem continuar a existir dentro de nós e a influenciar-nos, independentemente da sua validade.
A influência das regras inconscientes
Muitas regras relacionais são aprendidas na infância e mantêm-se na idade adulta de forma inconsciente. Observar estas regras quando surgem nos nossos pensamentos ou interações permite perceber de onde vêm, qual a sua lógica, quais as suas consequências e como seria viver sem acreditar nelas. Estas reflexões ajudam a desmontar alguns dos padrões “se/então” que seguimos sem questionar.
Na parentalidade, é importante observar os “se/então” que utilizamos ao comunicar com os nossos filhos, pois podem estar ligados ao chamado “Amor condicional”, onde o amor se torna uma moeda de troca.
Exemplo: Se não me deres um beijinho, vou ficar triste.
Isto pode levar a que, no futuro, a criança sinta que precisa de agradar aos outros para ser amada.
Na Parentalidade Consciente, falamos em 3 tipos de consequências:
Consequências naturais: O que acontece naturalmente.
Exemplo: Se a água cair ao chão, então o chão ficará molhado e escorregadio.
Consequências lógicas/conscientes: Relações de causa e efeito razoáveis.
Exemplo: Se não lavares os dentes, então poderás ter cáries.
Consequências ilógicas: Relações de causa e efeito artificiais para manipular comportamentos (como os castigos e ameaças).
Exemplo: Se não lavares os dentes, não podes jogar PlayStation.
Questionar as regras “se/então”
Comentários como: “Se deixares o teu filho dormir no teu quarto até tarde, então ele nunca será independente.”, podem ser questionados:
- Esta regra vem da minha própria experiência?
- Existe algum estudo que a sustente?
- Faz sentido aplicá-la neste caso concreto?
Aprendemos muitas regras na infância e pelo facto de serem lógicas, ajudam-nos a funcionar no mundo.
Exemplo: Se eu quero ter boas relações com as pessoas, então ajuda eu ser simpático.
Há outras que aprendemos na vida adulta, sobretudo em áreas onde temos menos experiência. Quando confiamos numa pessoa com mais conhecimento, podemos aceitar as regras “se/então” que ela nos transmite sem questioná-las. Isto torna-se perigoso quando vem de instrutores, gurus ou líderes influentes, pois podem induzir decisões baseadas em regras pouco fundamentadas.
Exemplos de regras que podem ser questionadas:
- Se não castigar o meu filho quando se porta mal, então estou a reforçar o mau comportamento.
- Se quiseres ser feliz, então tens de encontrar o teu propósito de vida.
- Se trabalhas por conta de outrem, então nunca terás liberdade.
Os processos de coaching, por exemplo, ajudam a identificar e questionar estas regras para que o cliente possa refletir sobre a sua origem e impacto.
Onde identificamos estas regras em ação?
De forma explícita: Quando usamos claramente na nossa comunicação “se/então” ou “se não/então”.
De forma implícita: Quando nos questionamos sobre a razão por detrás de determinados comportamentos ou escolhas.
Como lidar com estas regras?
Questionar-se:
- É uma regra lógica? Faz sentido para mim?
- Faz sentido apenas em algumas situações ou com pressupostos específicos?
- É uma regra que não tem qualquer lógica?
Experimentar agir com uma regra diferente e observar o impacto.
Se estivermos mais atentos às nossas regras “se/então”, então poderemos comunicar de forma mais consciente, tomar decisões mais conscientes e agir de forma mais consciente.
Pedro Vieira
____________________________
Queres aprender a identificar e a reprogramar estas regras invisíveis que influenciam as tuas decisões?
Na Certificação em Neuro Estratégia, exploramos como os padrões mentais e estruturas como “Se/então” moldam a nossa vida – e, mais importante, como podemos utilizá-los a nosso favor para tomar decisões mais alinhadas com o que realmente queremos.
Descobre mais e inscreve-te aqui.