Em que acreditamos? E acreditar nisso é bom ou mau? Que estratégias podemos usar para revermos e atualizarmos as nossas crenças?
O que é uma crença?
Uma crença é uma afirmação do género: “Eu acredito que”; “Eu acredito em”.
Exemplo:
Eu acredito que o dia hoje está muito bonito.
Quando verbalizamos usando o verbo acreditar, o foco está em nós e na nossa crença e não na coisa em si, isto é, não é o dia que está bonito, nós é que acreditamos nisso.
Se, pelo contrário, dissermos: “O dia está muito bonito”, esta afirmação é mais sobre o dia e não sobre aquilo que achamos sobre o dia.
Na maior parte das vezes, não chegamos a formular a crença como uma crença mas sim como uma evidência, sem termos sequer consciência que se tratam de crenças, pois muitas das nossas crenças têm por base a informação e influências que fomos recebendo, a cultura em que estamos inseridos.
Exemplo:
- Quando dizemos: “Toda a gente sabe que…”; “Tem de ser assim.”; “Nunca se consegue…”; “É sempre a mesma coisa.”
- Crenças em relação ao trabalho, à vida em família, etc.
É importante, por isso, começarmos a olhar para as crenças como algo subjetivo e pessoal, sendo que nós somos o autor das nossas crenças e é em função delas que vivemos determinadas experiências.
O que distingue uma crença limitadora de uma crença possibilitadora?
Não existem crenças que são, por si, limitadoras ou possibilitadoras. Elas ganham esse poder de limitar ou possibilitar em função da forma como afetam a nossa vida, as nossas possibilidades. Uma crença possibilitadora tem como efeito aumentar o número de possibilidades que temos à nossa disposição ou introduzir novas possibilidades. Por seu lado, uma crença limitadora faz o contrário, limita as nossas possibilidades.
Exemplo:
Pode ser limitador ter a crença de que “as crianças têm de comer sopa”, porque face a essa crença só tenho uma opção: comer sopa. E quando isso não acontece, há tensão e conflito em casa. No entanto, se eu tiver a crença de que as crianças podem comer vegetais de várias formas, crio mais possibilidades.
Às vezes, a fronteira entre crença limitadora e crença possibilitadora não é muito óbvia.
Exemplo:
Estou no telhado de um prédio e acredito que não consigo saltar e manter-me com vida. Nessa situação, essa crença pode ser limitadora pois está a retirar-me possibilidade como também pode ser possibilitadora porque está a possibilitar o facto de continuar com vida (por acreditar que se saltasse, morria).
Assim, o importante não é tanto ir em busca se a crença é limitadora ou possibilitadora, mas sim pensar na nossa vida, no momento presente, e perceber que tipo de impacto essa crença teria ou está a ter.
Exemplo:
- Tenho a crença de que as crianças têm de comer sopa e os meus filhos adoram comer sopa, então não é um problema.
- Acredito que não consigo saltar de um prédio e manter-me vivo. Isso não é propriamente um problema, mas podia transformar-se num problema/limitação se a minha função fosse limpar vidros em arranha-céus e precisasse de me manter suspenso no vazio.
“O problema é quando a crença se transforma num problema.”
Estratégias para abalar crenças que nos limitam
Quando procuramos perceber que crenças nos limitam no sentido em que provocam mais atrito (isto é, desgaste, sofrimento, tristeza, frustração, etc) na nossa vida, vamos ver que, muitas vezes, essas crenças estão presentes nas áreas que são emocionalmente mais relevantes para nós: parentalidade, relacionamentos, amor, família, trabalho, dinheiro, saúde, aspeto físico, idade, etc.
Exemplo:
- Existem muitas crenças limitadoras relacionadas com o trabalho que nos fazem sofrer. Dizer que: “Isto não é para brincar, é para trabalhar” mostra que brincar e trabalhar são mutuamente exclusivos, pelo que, acreditar nisso retira um conjunto enorme de possibilidades nas vivências que é possível ter no trabalho.
- Crenças em relação ao que o meu filho deve fazer; como se deve comportar. Em determinadas situações, posso encontrar uma série de crenças limitadoras que fazem com que exclua uma série de outras possibilidades para lidar com aquela situação.
1ª Estratégia: Questionar a origem das nossas crenças
Se uma determinada crença está a trazer algum tipo de atrito à nossa vida, pode valer a pena olhar para a crença e questionar com curiosidade, compaixão e não julgamento:
- De onde vem esta crença?
- Quando é que comecei a acreditar nisso?
- Desde quando é que acredito nisso?
A pergunta não tem uma intenção terapêutica, tem sobretudo uma intenção de identificação de um momento, de uma fase da nossa vida em que a crença começou a manifestar-se. O objetivo nem sempre é chegar ao momento específico, mas o que acontece quando exploramos estas perguntas é que introduzimos um pressuposto: deve ter existido um momento a partir do qual a crença se formou e começou a ser utilizada. Só isso ajuda a suavizar a força da crença, a trazer alguma flexibilidade, começando a torná-la mais maleável para posteriormente poder ser alterada.
2ª Estratégia: Crer para ver
Este princípio convida-nos a acreditar primeiro e só depois fazermos aquilo que tivermos de fazer para ver a nossa limitação ultrapassada. A maior parte de nós utiliza o princípio oposto: ver para crer, isto é, primeiro tem de acontecer e só depois acreditamos.
No entanto, muitas das coisas que vamos efetivamente ver têm a ver connosco, com o que estamos a produzir.
Exemplo:
Eu só acredito que posso ganhar muito dinheiro quando me vir a ganhar muito dinheiro.
Só que o processo que me vai levar a ganhar muito dinheiro é um processo que tem a ver comigo e que vai ser difícil de ser executado se a minha crença de base for: “Eu não consigo ter muito dinheiro”.
Como fazer então para crer para ver? Começando a acreditar… nem que seja um bocadinho.
No caso da crença do merecimento, se acreditarmos: “Eu não mereço, eu não sou suficiente”, iremos provavelmente reparar em muitas coisas que mostram que a nossa crença é válida.
Exemplo:
- O meu filho está a fazer isto porque eu não sou suficiente como pai.
- Aquela pessoa virou-me as costas porque eu não sou suficientemente competente.
A crença de que “eu não sou suficiente” em si é só uma crença, só que ela pode transformar-se numa grande limitação e gerar resultados muito duros, principalmente a nível emocional. A proposta é então começar a acreditar, nem que seja um pouco, que sou suficiente, permitindo-me assim começar a ver evidências de que sou suficiente.
(Nota: Podes ouvir a meditação da autoestima no episódio #72 do podcast IVM.)
Porém, não se trata de passar de uma crença para o seu oposto. Podemos adotar crenças que possam ser temporárias ou intermédias.
Exemplo:
- Se acredito que o meu filho tem de comer tudo o que está no prato, posso só durante uma semana deixar que seja ele a servir a quantidade que quer para o prato, responsabilizando-me pela confeção.
- Se a minha crença é “Sou insuficiente”, o oposto seria: “Sou suficiente”, mas posso alterar só um pouco: “Se calhar eu não sou totalmente insuficiente” de forma a abrir uma brecha.
- Se sou incapaz de saltar para a água, a crença oposta seria: “Eu salto sempre para a água e adoro” mas posso ter a crença intermédia de “talvez eu consiga às vezes saltar para a água”.
As crenças temporárias ou intermédias permitem-nos experimentar e a experiência, como é algo que nós vemos, pode levar-nos a uma crença diferente. O convite é começarmos com coisas pequenas que poderão transformar-se em metáforas para outras (grandes) coisas da nossa vida.
3ª Estratégia: E se?
Podemos também usar perguntas começadas por “E se…” que nos ajudam a ver possibilidades e a ativar o “crer para ver”:
- E se a vida começasse agora com este despedimento?
- E se começasse agora a surgir as oportunidades?
- E se fosse possível?
- E se não acreditasse nisso, o que aconteceria?
Para saber mais sobre a técnica que é explorada em Neuro Estratégia que nos permite entender como está explicitada a crença limitadora no nosso sistema e quais as características da crença que podemos alterar, junta-te a nós no nosso curso presencial: https://www.lifetraining.pt/neuro-estrategia