“Há tanto para dizer sobre literacia emocional, podemos praticar uma vida inteira e mesmo assim não estaremos completamente alfabetizados na linguagem das emoções.”

Mia

O que é Literacia Emocional?

O termo literacia emocional (“emotional literacy”) ou alfabetismo emocional foi lançado por Claude Steiner em 1979. Ele define a literacia emocional como:

A capacidade de entender as nossas emoções, a capacidade de ouvir os outros e empatizar com as suas emoções e a capacidade de expressar emoções de forma produtiva. Ter literacia emocional é ser capaz de lidar com as emoções de uma maneira que melhora o nosso poder pessoal e melhora a qualidade de vida ao nosso redor. A literacia emocional melhora os relacionamentos, cria possibilidades amorosas entre as pessoas, possibilita o trabalho cooperativo e facilita o sentimento de comunidade.

A literacia emocional é muito mais do que apenas saber dizer o que sentimos num determinado momento. Ela também envolve a empatia e as competências inerentes à prática de empatizar.

Quais são as competências de uma pessoa com Literacia Emocional?

Com base na lista desenvolvida por Claude Steiner em 2003, é importante:

  • Conhecer as nossas emoções
  • Ter um sentido sincero de empatia
  • Aprender a gerir emoções

Por vezes, pode ser problemático falar em gestão de emoções ou dizer que é importante saber gerir as emoções. Pode ser mais interessante dizer que aprendemos a viver as emoções ou a viver com as nossas emoções. É mais fácil sermos gentis connosco quando utilizamos a palavra “viver” em vez de “gerir” e desligamo-nos também de uma série de associações que existem à volta da gestão, principalmente no mundo corporativo.

  • Reparar problemas emocionais

São os problemas emocionais que acontecem em relações, quando há conflitos, quando uma pessoa impacta negativamente as emoções de outra pessoa. Aqui entra muito em ação a capacidade de empatizar.

  • Interatividade emocional – juntar as peças

Quando conseguimos juntar as peças no sentido de percebermos porque estamos a

sentir o que estamos a sentir, o que se está a passar no nosso corpo e quais são as necessidades que as nossas emoções estão a comunicar. A consciência das nossas necessidades é fundamental e é muitas vezes uma peça que é esquecida quando falamos de inteligência emocional e de literacia emocional. Esquecemo-nos que, além das emoções, existem necessidades e as emoções surgem porque há necessidades. Perceber essa ligação é fundamental para desenvolver competências da literacia emocional.

Podemos dizer que temos literacia emocional quando:

  • Conseguimos identificar a emoção – reparar na emoção e dar nome à emoção – que estamos a sentir e conseguimos ver e decifrar emoções em outras pessoas.

Nota:
Nem sempre conseguimos ter um nome específico, mas podemos procurar descrever o que se passa no nosso corpo.

  • Entendemos a mensagem que a emoção está a querer comunicar (causa e efeito),  quando conseguimos chegar até à necessidade que, de alguma forma, despoleta a emoção.
  • Encontramos a emoção que estamos a experienciar, percebemos de onde é que ela vem e fazemos uma escolha consciente em relação a como vamos comunicar o que estamos a sentir.
  • Aceitamos todas as emoções como parte normal e integrante da vida e sentimo-nos à vontade para falar sobre as nossas emoções com as pessoas em quem confiamos.

Como desenvolver Literacia Emocional

A literacia emocional permite-nos:

  • Aprender sobre nós e sobre os outros;
  • Melhorar a saúde física e emocional;
  • Melhorar os nossos relacionamentos.

A que devemos prestar atenção para desenvolver literacia emocional?

  • Emoções
  • Pensamentos (e necessidades)
  • Sensações físicas

Podemos não ter a palavra para dizer o que estamos a sentir mas podemos identificar no nosso corpo a emoção. Saber as palavrasajuda-nos muito, no entanto, às vezes colocamos demasiada pressão nessa busca pelas palavras certas. Além das palavras, as expressões faciais e a linguagem não verbal também expressam o que estamos a sentir.

Exemplo:

Se o meu filho me diz: “Estou a ficar todo vermelho!” (enquanto coloca tensão na face e cerra os punhos com força), eu posso responder com a mesma cara, espelhando o que ele está a sentir, e colocar a palavra: “Estás a sentir muita raiva, é?” Nessa identificação, o nosso sistema nervoso relaxa.

Algumas pessoas não têm a capacidade de sentir ou descrever as sensações físicas, pelo que podemos convidá-las a descrever o que está presente nas 3 zonas principais: intestino/barriga, peito/coração e garganta. É uma forma das sensações físicas se sentirem vistas.

Roda das Emoções e Sensações Físicas inspirada no trabalho de Lindsay Braman

Nesta roda estão presentes as emoções base, as emoções mais complexas e as sensações físicas. Quando não temos vocabulário para as emoções e quando sentimos pressão para encontrar as palavras certas, pode ser mais fácil começar por descrever as sensações físicas.

Exemplo:

  • “Estou a tremer”;
  • “Estou a sentir frio nas mãos”;
  • “Sinto formigueiro nas pernas”;
  • “Sinto necessidade de me mexer”;
  • “Sinto o coração a bater muito rápido”

E só depois é que, eventualmente, podemos procurar identificar qual a emoção.

Na definição de Claude Steiner, ele dizia que a literacia emocional significava também saber “expressar as emoções de forma produtiva”. É nessa expressão que entram as necessidades. Podemos falar apenas das nossas emoções ou das nossas sensações físicas, no entanto, isso oferece-nos pouca direção e pouca possibilidade de termos estratégias ou ideias para o que vamos efetivamente fazer com o que estamos a sentir. 

Isso pode não se tornar tão urgente quando estamos a sentir coisas agradáveis e confortáveis mas torna-se relevante quando estamos a sentir coisas desagradáveis e desconfortáveis. No entanto, em ambos os casos, vale a pena explorar quais são as necessidades que estão por detrás do que estamos a sentir.

A ligação às necessidades é importante para transformarmos a expressão das nossas emoções em algo realmente produtivo que possa ter um efeito positivo na nossa vida emocional e ao nosso redor.

Exemplo:
Porque é que estou a sentir formigueiro na barriga e um quentinho no coração quando o meu companheiro se aproxima de mim? Provavelmente posso ter uma necessidade de conexão satisfeita.

4 E’s da Literacia Emocional

  • Entender – a nós e aos outros
  • Empatizar – dar espaço ao outro para sentir o que está a sentir
  • Expressar – exprimir o que está a acontecer em nós
  • Envolver – ter esta prática presente na nossa vida e nas relações em que confiamos

Nota:
E se nem toda a gente merece a nossa vulnerabilidade, também não precisamos de praticar sempre a literacia emocional, podemos escolher quando e com quem o fazer.

Lembretes para desenvolvermos mais literacia emocional. É importante:

  • Sermos menos simpáticos e mais empáticos;
  • Propormos menos estratégias e soluções e espelharmos mais as necessidades.
  • Fazermos a mesma coisa em relação a nós.

Exemplo:

Estou a sentir-me frustrado/a com uma situação. Em vez de estar logo a pensar em estratégias para mudar essa situação, posso conectar-me com as necessidades que estão presentes nessa situação. Se eu souber quais são as necessidades, vou conseguir escolher estratégias mais eficazes e alinhadas com o que sinto e o que preciso.

O foco primário nas necessidades não implica não haver estratégias, pelo contrário, as estratégias são muito mais úteis e acertadas se soubermos quais são as necessidades.

Exemplo:

Sinto que ninguém me está a ajudar e começo a chatear as pessoas. Se eu parar e identificar a necessidade, posso perceber que se calhar a minha necessidade naquele momento é de conexão em ter as pessoas comigo ou de reconhecimento por validarem o que estou a fazer ou de compreensão, etc. No entanto, nenhuma destas necessidades fica satisfeita com a estratégia que escolho em chatear as outras pessoas. Posso então escolher outra estratégia que satisfaça realmente essa necessidade e que permita um maior envolvimento.