Em muitas áreas da nossa vida, há decisões que tomamos sem estar muito conscientes de que estamos a tomar uma decisão.

Exemplo:

Faço algo porque toda a gente faz. Posso não ter consciência de que tomei uma decisão e posso não ter ponderado se é algo que eu quero ou o que significa para mim seguir os outros.

Um dos modelos mentais propostos na Neuro Estratégia é nós tomarmos consciência de quais são as nossas necessidades psicológicas e entendermos como é que as nossas várias opções contribuem ou não para a satisfação dessas necessidades.

Contudo, o que acontece muitas vezes é o velho modelo mental da consistência.

Exemplo:

Tomei uma decisão e mesmo que, após reflexão, me aperceba que afinal aquela decisão não é a melhor para mim, vou continuar a defendê-la por ser a minha decisão inicial.

Muitos de nós temos esse modelo mental presente em várias situações. Ficamos presos a algo que definimos no passado e que tem de ser vivido no futuro porque, se mudarmos de opinião, quererá dizer que antes estávamos errados. No entanto, podemos olhar para isso com uma outra lente. Podemos perceber que, numa primeira fase, aquilo que achámos que contribuía para as nossas necessidades era uma coisa e agora é outra coisa. 

Exemplo:

Nos relacionamentos pessoais, a minha necessidade é de conexão. Em nome da conexão, eu caso-me com uma pessoa e mais tarde em nome da conexão eu decido separar-me dessa pessoa. Isso não significa que antes estava errado/a. Porém, o que muitas vezes está presente para nós nesses momentos é: “Como é que não vi isto antes”; “Desperdicei anos da minha vida”.

Neste modelo mental, a consistência recai, não na decisão em si mas sim, na preservação da necessidade que é importante para nós.

Neste seguimento, há também decisões que podem ser tomadas por uma necessidade de coesão.

Exemplo:

Em casa, todos querem ter um cão, excepto uma pessoa. E parece que qualquer que seja a decisão, alguém vai ficar chateado. Podemos optar pelo princípio da maioria absoluta (decide-se consoante a maioria dos votos); também é possível que quem seja contra a decisão possa dar relevância à coesão, isto é, à importância de fazer algo juntos. Embora a pessoa não queira o cão, pode concordar e participar porque quer ter uma relação coesa com o grupo.

Curiosidade…

Muitos historiadores mostram que as grandes civilizações da história começaram a ruir no momento em que os níveis de coesão diminuíram e os da polarização aumentaram.

Criar aproximação através das necessidades psicológicas

A diferença de opinião pode originar afastamento. Contudo, se nós formos curiosos sobre a razão pela qual o outro tem determinada opinião, vamos acabar por perceber quais são as suas necessidades psicológicas. E nesse momento, teremos a oportunidade de empatizar com as necessidades do outro, encontrar pontos comuns e criar aproximação pelo fato das necessidades serem universais e todos nós entendermos a sua relevância.

Exemplo:

  • O outro tem uma necessidade de liberdade e eu também tenho essa necessidade.
  • O outro tem uma necessidade de reconhecimento e eu também tenho essa necessidade.
  • O outro tem uma necessidade de conexão e eu também tenho essa necessidade.

Esse é o segredo para tomarmos melhores decisões individualmente e em grupo, pois também nos ajuda a ganhar maior compreensão e compaixão pelas opiniões e decisões dos outros. 

Assim, quando reparamos que o outro decidiu uma coisa diferente da nossa, podemos achar que é diferente ou o oposto de nós e começar a afastá-lo e julgá-lo. Ou então, podemos nos interessar pelo processo da sua tomada de decisão – nomeadamente as suas necessidades – e podemos descobrir necessidades comuns, criando aproximação e como que uma ponte que nos permite tomar uma decisão comum, se isso for o caso. 

Se estivermos numa posição em que o nosso papel é influenciar os outros a tomar uma certa decisão, precisamos também olhar e reconhecer as necessidades do outro para a nossa comunicação ter algum impacto nele. Não nos podemos limitar a olhar apenas para as nossas necessidades pessoais. Tendo consciência das necessidades por detrás de certas decisões e opiniões, nós tornamo-nos muito mais eficazes na forma como podemos influenciar o outro.