“Havia uma porta que eu queria abrir. Que eu assumi que abriria, sem resistência, sem reservas. Era assim que sempre acontecia. Era assim que deveria acontecer, que todos esperavam que acontecesse. Ela estava lá, no sítio certo, com puxador e tudo. Hoje percebo que tinha uma expectativa de que a porta abrisse – à primeira, sem resistências, sem reservas. Hoje sei que acreditar que as coisas vão correr de determinada maneira acaba sempre em desilusão.

Ela não abriu quando eu girei o puxador para a direita. E não abriu quando eu o girei para a esquerda. E eu fiquei zangado. Esta porta está mal, está errada. Forcei mais um pouco e depois mais um pouco. Ela tinha de abrir. Era suposto ser assim. Insisti, empurrei – da forma que se abrem portas, claro. Mas ela não abriu, quando deveria abrir: à primeira, do modo que sempre acontecia. Hoje percebo que, naquele momento, me fechei numa ilusão criada por mim próprio – pelo mapa com que na altura, entendia o mundo.

Se eu tivesse largado a expectativa de que a porta abriria, ao primeiro rodar do puxador, e tivesse ficado curioso – sem julgar ou esperar nada dela – teria tido mais poder, teria conseguido fazer diferente. Teria ficado focado no meu objetivo que era entrar. Teria colocado perguntas, teria ficado interessado em relação ao que se “estava a passar” e não preso ao que se “deveria estar a passar”. Será que esta porta abre para fora, hoje? Será que é preciso uma chave que eu não tenho? Será que a forma de entrar aqui, hoje, é por outra porta? Haverá uma janela aberta por onde eu possa saltar? Mas eu fiquei ali, a chocar de frente contra as minhas expetativas e contra a porta, claro.

Gritei com ela, fui-me queixar a quem me quis ouvir, rotulei a porta e até exerci alguma violência porque “se não abre a bem abre a mal”. Em momento nenhum disse apenas: eu gostaria de entrar. Em momento nenhum parei para pensar porque é que, na verdade, a porta não abrir me estava a afetar tanto? Para mim não era “possível” que a porta não abrisse – embora fosse óbvio que isso “era possível” – era o que estava a acontecer.

Com tantas portas, da nossa vida, só sabemos embater cada vez com mais força e repetidamente até que nos magoamos a nós ou as destruímos para sempre. Forçamos tanto a nossa expectativa que as nossas relações não resistem. E, na verdade, com menos expetativas e mais abertura talvez eu tivesse acabado por entrar.”

Talvez esta história tenha deixado algumas novas portas abertas para que as expetativas e as desilusões não assumam o poder que é teu, na tua vida. Para que o teu potencial de ação para criares impacto na realidade aumente e os queixumes e sofrimento diminuam.

Isto quer dizer que não vamos ter nunca expectativas? Claro que não! Mas quando te sentires desiludido com alguma coisa, pensa “Ótimo! Aqui está uma porta que me vai ensinar a conhecer-me melhor, a transformar as coisas de que não gosto e a desenvolver o meu poder pessoal.”

nossa fonte: Podcast IVM – já ouves o podcast mais inspirador de Portugal?