“A mudança de ano traz para muitos uma sensação de recomeço e de oportunidade. Essa sensação pode ser muito positiva, se nos incentivar a tornar novas decisões, assumir novos hábitos, aceitar novos desafios, implementar novos comportamentos. Pois, a tal possibilidade de mudança reside exatamente aí. Não no ano em si, mas naquilo que fizeres com ele.”

Pedro Vieira

O que se entende por mudança?

A possibilidade de mudança é um conceito-chave no desenvolvimento pessoal pois a mudança é o caminho que cria a oportunidade de termos um resultado diferente, seja ele a nível dos nossos relacionamentos, da nossa saúde e energia, do nosso trabalho e dinheiro, da nossa vida social, etc.

Quando falamos em mudança, falamos em mudar o resultado e, para isso, precisamos mudar o nosso comportamento, abandonando a ideia de que o mundo/os outros é que precisam de mudar 😉

Entraves à mudança:

● Não saber o que queremos especificamente;
● Não prestar atenção ao que estamos a fazer;
● Não saber o que mudar/como mudar;
● Ter crenças limitadoras em relação à mudança.

Além destes, vamos explorar aqui mais 2 entraves que tendem a estar presentes:

  1. Foco em narrativas de mudanças profundas;
  2. Foco no resultado.

1. Foco em narrativas de mudanças profundas
É importante termos em conta a forma como percepcionamos o nosso próprio desenvolvimento pessoal, nomeadamente as mudanças em nós: às vezes achamos que mudámos muito e talvez não tenhamos mudado assim tanto.

Por vezes, partilhamos com outros ou ouvimos narrativas de outras pessoas a dizerem que a partir de um certo evento, mudaram completamente.

Exemplo:
Desde que fui mãe, mudei completamente.
Desde que me separei, mudei completamente.
Desde que mudei de empresa, mudei completamente.
Desde que iniciei atividade física, mudei completamente.

Quem está de fora, pode ver que de facto houve algumas mudanças. No entanto, algumas são mudanças que já iriam acontecer naturalmente, pois têm a ver com a maturidade e o progredir da vida, e não tanto com algo que se decidiu ou que se aprendeu. Por outro lado, as mudanças podem não ser assim tão grandes porque podem tratar-se de uma mesma estrutura psicológica que existia antes mas aplicada a um contexto diferente.

Exemplo:
Uma pessoa tinha uma determinada estrutura psicológica quando não fazia exercício físico e que existe agora que pratica desporto. Se calhar, antes a pessoa estava constantemente a falar de bolos (ou de outra coisa) e agora está constantemente a falar de crossfit ou de corridas. A estrutura “falar constantemente” continua presente só que num outro contexto.

Nas abordagens de Neuro Estratégia e Coaching, trabalhamos em cima da possibilidade de mudança. Aliás, um dos 5 princípios da Neuro Estratégia é a Primazia da Possibilidade: tudo é possível, a começar pela mudança.

A questão é perceber se quando nós achamos que passamos por grandes mudanças psicológicas, se na realidade estamos assim tão diferentes.

Quando as nossas mudanças são realmente estruturais e grandes, elas são visíveis, pelo que não precisamos de anunciá-las, as pessoas vão reparar. Muitas vezes, nem sequer nos lembramos de as anunciar porque estamos a usufruir delas.
No entanto, quando sentimos necessidade de anunciar a mudança, em princípio é porque a necessidade de fazer o anúncio vem da nossa estrutura psicológica antiga que ainda está em ação.

O convite é podermos apreciar e usufruir das nossas estruturas internas – boas e menos boas – sem estarmos tão focados em tudo o que temos de mudar e sem constantes comparações com o que era antes ou com o que vai ser no futuro. A nossa busca constante de mudança não nos permite usufruirmos do que temos agora. No entanto, quando conseguimos usufruir de forma mindful do que temos, também podemos perceber melhor quais as mudanças que gostávamos de fazer e como fazê-las com calma e compaixão.

2. Foco no resultado

Tendemos a procurar ajuda/acompanhamento ou a recorrer a determinadas estratégias quando os nossos resultados não são bons, quando temos desafios, quando nos sentimos mal. Isso leva-nos a implementar uma mudança.
No entanto, quando os resultados começam a aparecer, mesmo que de forma fortuita, tendemos a deixar as estratégias usadas, acabando por alterar o resultado novamente.

Assim, o foco no resultado – no que queremos mudar – pode ser um entrave à mudança.

Exemplo:
Quero muito que haja abertura na minha relação amorosa.
Começo então a fazer coisas para que isso aconteça e um dia surge um evento fortuito: numa saída à noite em que bebemos uns copos, eu e o meu companheiro acabamos por falar de várias coisas com bastante abertura.
Neste caso, posso achar que já conseguimos o resultado desejado, esquecendo que o que quer que seja que estava a gerar a falta de abertura provavelmente continua lá porque não houve uma mudança estrutural. Foi apenas um acontecimento em que não houve uma verdadeira aprendizagem.

“Muitas vezes descuramos o processo e só nos focamos no resultado.”

PEdro Vieira

É importante lembrarmo-nos que todo o resultado é gerado por um processo, sabendo que às vezes o resultado pode ser fortuito. No entanto, muitas vezes, tendemos a descartar o processo que leva ao resultado, não assumindo responsabilidade pelo mesmo.

Exemplo:
Ando sempre muito cansado e não tenho energia. Posso ignorar o facto de ficar todos os dias acordado até às 2h da manhã a ver séries na televisão. Isso será parte do processo.

Pelo contrário, também é fácil focarmo-nos de tal forma no processo que acreditamos que se seguirmos o processo à risca, ele vai funcionar de certeza, sem olharmos para o facto de que quando estamos a implementar um processo, ele também tem outros resultados para além daquele.

Exemplo:
Estou a seguir um processo de nutrição que gera um resultado que eu quero: tenho o peso que queria ter. Só que agora posso ter menos energia, estar sempre a pensar em comida, não jantar fora com os meus amigos para não cair em tentações, estar constantemente em esforço, etc.

Para não descartarmos esses resultados, é importante questionarmo-nos:

● Que preço estou a pagar para ter um determinado resultado?
● Que outro tipo de resultado(s) esse processo tem?

“Muito mais do que olhar só para o resultado, reflete sobre o processo e o preço a pagar.”

Mia

Pressupostos fundamentais da mudança

Com estes pressupostos ativos, será mais fácil implementar mudanças na nossa vida.

❖ A mudança está longe de ser totalmente linear. Se houver retrocessos, não quer dizer que a mudança falhou ou que nós falhámos.

Exemplo:
Pratico Mindfulness diariamente e um dia ao chegar a casa inicio uma discussão em que perco a calma com o meu filho.

❖ Mudanças pequenas são mais simples e são também mais fáceis de realizar.

Exemplo:
Se quero meditar, posso começar com práticas de 1 minuto em vez de começar logo com 30 minutos de meditação num local e com condições específicas.

❖ A mudança é específica, reside em algo compreensível.
Se ela não for específica, é difícil saber como mudar concretamente e que estratégias usar.

Exemplo:
Eu quero ser um melhor pai. O que significa ser um melhor pai? O que tem de acontecer concretamente para eu saber que sou um melhor pai?

❖ A mudança não nos coloca em causa, temos valor independentemente da mudança.
Às vezes, temos medo da mudança porque achamos que se não conseguirmos mudar, se não gerarmos o resultado que queremos, se nos arrependermos da mudança, isso afetará o nosso valor enquanto pessoa. Ou então podemos achar que, ao mudar, teremos mais valor enquanto pessoas.

❖ A mudança é reversível, não temos de nos comprometer para sempre.
Embora haja mudanças que têm consequências muito grandes, a maior parte das mudanças são reversíveis. E isso pode ajudar-nos a relaxar um pouco.

Exemplo:
Mudo para vegetariano e se um dia voltar a querer comer carne, posso mudar novamente a minha alimentação.

❖ A mudança pode ser um mix de ordem e caos, com rotina e novidade.
Isto é, a mudança não tem de ser regrada e disciplinada. Também pode ter um caos associado.

Exemplo:
● A partir de agora, faço uma coisa louca ou diferente do habitual todas as semanas.
● O meu plano de exercício físico vai ser treinar 3 dias em algumas semanas, 1 dia noutras e 6 noutras.

❖ A mudança pode continuar a requerer esforço por algum tempo.
Não basta fazermos um programa de X dias ou X semanas para dizer que a mudança já aconteceu. Por vezes, é necessário continuarmos a praticar, durante anos ou até décadas, consoante a mudança desejada.

❖ O processo de mudança é contínuo e direcionado pela intenção.
A pergunta a ter presente é: Qual é a minha intenção? Ao revisitar a nossa intenção, podemos redobrar o nosso interesse em implementar a mudança.

❖ A mudança é mais fácil (e divertida) com outras pessoas!
Por que razão devemos nos manter isolados e sozinhos, quando podemos fazer a mudança com outras pessoas, pedir ajuda ou acompanhamento, partilhar os acontecimentos durante o processo de mudança, etc?

Rumo a mudanças sustentáveis

Aqui vão algumas estratégias rumo a mudanças sustentáveis.

1. Clareza mental

A mudança acontece mais facilmente quando se torna específica e clara.
Podemos imaginar que temos de explicar detalhadamente a nossa mudança a alguém que não sabe nada sobre nós, sobre o nosso contexto e sobre o novo resultado que queremos obter.

Exemplo:
Quero ter mais energia.
Como especificamente? Como explicaria isso detalhadamente a outra pessoa para entender a minha mudança desejada?

2. O(s) significado(s) da mudança

Muitas vezes, andamos às voltas com questões como: Como é possível mudar mais facilmente? Como podemos implementar as mudanças em que acreditamos? Como podemos tornar a mudança consistente?

Uma boa estratégia para tornar o processo de mudança natural e eficiente é questionarmos o significado que damos às coisas, pois o significado (sendo subjetivo e arbitrário) é a força que molda as nossas decisões.

● O que significa esta mudança para mim?
● Que significado teria que ter isto para eu executar a mudança?
● E como posso acreditar nesse significado?

Quando ligamos a mudança aos nossos valores e às coisas mais importantes do ponto de vista emocional, aumentamos a probabilidade de mudarmos.

3. Processos e resultados à luz das necessidades emocionais

Os resultados satisfazem necessidades. E quando vamos atrás de um certo resultado – que satisfaz uma certa necessidade – muitas vezes descuramos outras necessidades, pelo que é importante termos presente as seguintes perguntas:

● Que necessidades não vão/estão a ser satisfeitas com este processo?
● Que ajustes posso fazer para maximizar a probabilidade de ter as minhas necessidades emocionais e fisiológicas preenchidas?

Quando conseguimos satisfazer o maior número de necessidades possíveis, permitimos que o processo se torne mais sustentável.

Uma outra forma de chegarmos às nossas necessidades é através das nossas emoções, pelo que outra das perguntas a fazer é:

● Como me sinto em relação a isso?

Exemplo:
Consegui ser promovido.
Posso perguntar-me: Como me sinto em relação a isso?
Sinto-me contente com este resultado mas para chegar lá, afetei outras coisas na minha vida que não são assim tão interessantes.

4. Foco num resultado mais amplo

Um bom resultado a gerar é sentimo-nos bem – não só fisicamente como também mental, psicológica e emocionalmente – com a vida tal como ela se nos apresenta.
É esse resultado mais amplo – quão bem nos sentimos com a nossa vida – que se torna interessante avaliar para podermos olharmos para o processo com calma e com tempo e fazermos perguntas sobre o nosso processo, percebendo o que faz sentido para nós, que tipo de consequências está a ter, etc.

5. Foco mental e visual

O foco mental é importante para fazermos uma mudança e ele está neurologicamente associado ao foco visual. A investigação tem mostrado que se trabalharmos o nosso foco visual (basta 1 minuto) antes de executarmos um processo de mudança, aumentamos a probabilidade da mudança funcionar por nos mantermos focados nela.

Exercício de neuro estratégia para foco visual:

  • Coloca a tua atenção num ponto à tua frente. Podes, por exemplo, focar toda a atenção visual no teu dedo indicador.
  • Enquanto olhas para o dedo, começa a prestar atenção à visão periférica, isto é, foca-te mais no que está à volta, continuando a olhar para o dedo.
  • Foca novamente apenas no dedo e volta para a visão periférica.
  • Repete este processo 3 ou 4 vezes.
  • No fim, pisca os olhos e relaxa um pouco.
  • Agora estás pronto/a para ativar o comportamento de mudança.

“Toda a mudança está no detalhe e só acontece quando reorganizamos os nossos recursos e começamos a fazer uma coisa diferente.”

Se o tema da mudança é importante para ti, então fica a saber mais sobre Neuro Estratégia e sobre como podes beneficiar das técnicas e estratégias de Coaching, PNL, Mindfulness, Hipnose, Modelos Mentais, entre outras, para criares as tuas próprias estratégias e fazeres as mudanças que queres fazer na tua vida!