Parece uma mera questão semântica e… talvez contenha, em si, um detalhe fundamental na forma como acredito que o Coaching se possa tornar numa abordagem incrível a potenciar resultados no Desporto.

O Coaching é (na minha definição favorita e com que introduzo o tema tanto em cursos de iniciação como em formações avançadas) a arte de explorar caminhos do local onde estamos para o local onde queremos estar. Uma definição bem lata e a partir da qual conseguimos começar a entender o propósito e o alcance das técnicas e estratégias próprias desta atividade.

Quando aplicamos Coaching a uma área específica estamos a fazer o convite a uma pessoa ou a uma equipa de focar a sua atenção em três questões muito importantes (e todas contidas na definição inicial apresentada acima):

a) Onde estou?

b) Onde quero estar?

c) Como posso chegar lá?

Estas três questões configuram aquilo a que gosto de chamar de Modelo de Coaching 1.0, a base de todas as intervenções. Repara que este Modelo é perfeitamente independente do contexto: farei estas mesmas questões a um treinador de elite ou a um atleta de formação, tal como as farei a uma cirurgiã em início de carreira, a um pai a tempo inteiro, um grupo de investigadores académicos ou um experiente investidor em criptomoedas. É partir daqui que, usando os seus recursos, o Coach observa as respostas obtidas e vai desenhando processos para facilitar ao seu cliente a chegada aos objetivos desejados, descobrindo pelo caminho muitas coisas interessantes sobre si, sobre os outros e sobre a vida.

Quando aplicamos estas noções ao Desporto, estamos a usar Coaching no Desporto, tal como poderíamos falar de Coaching em Vendas, de Coaching em Relacionamentos ou de Coaching na Nutrição. No desenvolvimento destas aplicações, podemos acabar a identificar um conjunto de ferramentas que tendem a funcionar particularmente bem no Desporto, claro. Só que as ferramentas não serão nunca exclusivamente desportivas e sim aplicações no Desporto!

Um nutricionista pode especializar-se em Nutrição no Desporto, por exemplo. Utilizará as bases que conhece da Nutrição para, em função das necessidades específicas do desportista, o ajudar a alcançar os seus objetivos. O mesmo acontece com um Coach!

A ideia de que existem ferramentas exclusivas do Desporto ajuda a propagar mitos como “só quem está no Desporto sabe” e “no Desporto é diferente” que aparecem depois até de forma mais estrita como “no Futebol é diferente”, “nas modalidades individuais isso não funciona”, etc. Isto não será diferente, claro, daquilo que ouço em outras áreas de atividades: “na Banca não funciona assim”, “em pequenas empresas isso não é assim”, “em Portugal é diferente”, etc.

São todos exemplos da mesma estrutura mental: aquilo que faço é tão específico que tem ferramentas próprias. Isto pode ser válido para questões técnicas, obviamente, mas não faz sentido para as questões abordadas no Coaching: percepções, crenças, valores, mapas mentais, emoções, sentimentos, hábitos, processos de tomada de decisão, etc. Tudo facetas do comportamento humano (inconsciente e consciente, visível e invisível) e este, embora aconteça em adequação ao meio, está para além do meio em si.

Tudo isto para dizer que não existe um Coaching (exclusivamente) Desportivo, o que existe é um conjunto de aplicações do Coaching no Desporto. A sua aprendizagem é propiciada por histórias, exercícios e dinâmicas do Desporto, claro!

É precisamente por isso, aliás, que eu e o Pedro Seabra (talvez o coach português com mais experiência a trabalhar com futebolistas) ensinamos o Curso de Coaching no Desporto!

Pedro Vieira – Coach de treinadores e atletas de elite