Quando se trata de criar relações saudáveis e conscientes, a empatia permite-nos estabelecer verdadeiramente contacto com o outro. Geralmente fala-se em empatia como o ato de “calçar os sapatos do outro”, no entanto, dizer que conseguimos compreender completamente a experiência do outro seria uma mentira, pois não estamos efetivamente a viver essa experiência na primeira pessoa.

Para maior clareza e compreensão sobre a prática empática, vamos explorar o que a empatia não é, o que a empatia é e como podemos oferecer empatia aos outros e a nós mesmos.

O que a Empatia não é

É importante começarmos por diferenciar empatia de simpatia, pois a maioria das pessoas sabe como ser simpática, mas tem dificuldade em ser verdadeiramente empática. A autora e investigadora Brené Brown explica a diferença entre estes dois conceitos neste vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=_7BTwvVBrwE

Se pensarmos um pouco sobre o efeito da simpatia dos outros perante o nosso sofrimento, será que sentimos que estamos realmente a receber o que precisamos quando o outro é simpático connosco nesses momentos? Será que surge em nós alguma sensação de inadequação?

Acharmos que temos de “salvar” o outro do seu sofrimento não nos permite estar plenamente presentes e a nossa presença é o principal ingrediente no que diz respeito à empatia.

A empatia não procura solucionar nada, não quer mudar nada, a empatia não dá dicas, não diz: “Não te preocupes”; “Tudo acontece por uma razão”; “Esquece isso”, pois nessas propostas (em que talvez estejamos a ser simpáticos) não estamos realmente a oferecer espaço ao outro. Pelo contrário, estamos até a retirar espaço para a pessoa viver o que está a viver e estamos a propor à pessoa para que viva outra coisa diferente.

Em vez de oferecermos empatia, fazemos uma série de outras coisas que são na verdade obstáculos à empatia.

Exemplo:
Aconselhar: “Eu acho que tu deverias …” “Porque não fizeste…?”
Menorizar: “Isso não é nada! Uma vez aconteceu-me…”
Educar: “Tens muito a aprender com esta situação…”
Confortar: “Fizeste o teu melhor, a culpa não foi tua…”
Dramatizar: “Isso lembra-me uma vez em que…”
Distrair: “ Deixa lá! Esquece isso.”
Simpatizar: “Oh, coitado…”
Interrogar: “Quando é que começou?”
Explicar: “É assim…”
Corrigir: “Não foi bem assim. O que aconteceu foi…”
Acusar: “Sim, mas tu também, ainda ontem….”
Defender: “Oh, mas eu não sabia que…”
Julgar: “É sempre a mesma coisa…”
Moralizar: “Isso não está certo…”

Obviamente, fazemos isso com as melhores das intenções, no entanto, nenhuma delas é empatia.

O que é Empatia

A Mia tem vindo a definir empatia como: Oferecer espaço para o outro sentir o que está a sentir.

Quando estamos a ser empáticos, estamos a oferecer o espaço que o outro precisa para se sentir aceite e suficiente, independentemente do que esteja a sentir. Para isso, não precisamos entender o que o outro está a sentir ou sentir o que o outro está a sentir, apenas precisamos oferecer um espaço de ressonância e aceitação. Usando uma metáfora, a empatia é como caminhar ao lado do outro. Não se trata de correr à frente, desviá-lo do caminho que está a percorrer, nem andar atrás dele.

Como oferecer Empatia

Se quisermos ter uma prática empática, então é fundamental substituirmos os obstáculos à empatia por uma escuta e comunicação empática. Para isso, é importante:

  1. Observar atentamente o outro.
  2. Ouvir atentamente o que ele está a sentir, o que está a precisar e que tipo de pedido está a fazer.
  3. Refletir verbalmente o que estamos a observar, com curiosidade (com um tom de voz e uma postura corporal que exprime isso mesmo) e procurando adivinhar (e não afirmar).

Exemplo:
Em vez de:
Porque estás a reagir assim?
Que exagero, porque dizes isso?
O que queres que eu faça agora então?

Podemos dizer:
Estás a reagir porque eu não respondi às tuas mensagens?
Sentes-te inseguro e confuso porque gostavas de ter tido mais informação e mais clareza?
Queres que explique porque não respondi?

E quando sentimos que precisamos de obter mais informação para conseguirmos reconhecer o que se está a passar com o outro, podemos exprimir as nossas próprias emoções e necessidades.

Exemplo:
Sinto-me frustrada porque gostava de ter mais clareza em relação às razões por detrás da tua reação. Achas que me consegues explicar melhor o que é que especificamente eu fiz para te sentires assim? (Ter em atenção o tom de voz e a postura!)

Isso não quer dizer que nunca vamos dar conselhos ou ajudar as pessoas a pensarem em coisas mais alegres. No entanto, para isso realmente funcionar, é importante começarmos pela prática da empatia, pois ela é o ponto de partida para essas outras coisas (estimular, desafiar, dar suporte, incentivar, etc.). Conseguirmos oferecer o espaço para o outro sentir o que está a sentir ajuda-o a chegar às partes mais profundas, contribui para um aumento de autoconhecimento e permite um maior acesso a possíveis soluções.

E há aqui um paradoxo interessante a explorar. A empatia é o ponto de partida para outras coisas (incentivo, estímulo, etc) só que se nós praticarmos empatia com a intenção prévia de depois passarmos para outra coisa (isto é, com uma agenda própria), isso também já não é empatia e é muito provável que não funcione.

Exemplo:
Quando um pai ou uma mãe procura praticar empatia com o seu filho com a intenção de conseguir alguma coisa, de alterar o seu comportamento. Isso, em princípio, não funciona.

O psicoterapeuta Carl Rogers escreveu:
“Quando alguém realmente te escuta sem te julgar, sem tentar assumir responsabilidade por ti, sem tentar moldar-te, a sensação é ótima! (…) Quando sinto que me dão atenção e quando me ouvem, consigo reformular a percepção do meu mundo de uma maneira nova e seguir em frente. Quando se é escutado, é espantoso como as coisas que parecem insolúveis se tornam solúveis, como confusões que parecem irremediáveis viram riachos relativamente claros.”

Precisamos de Empatia para poder dar Empatia

Ouvimos muitas vezes que não podemos dar aos outros aquilo que não temos. Se
sentirmos muita resistência em nós em relação a oferecermos empatia ou se nos focarmos em encontrar razões pelas quais o outro não merece a nossa empatia, então provavelmente isso é
sinal de que nós próprios precisamos de empatia.

É aí que a autoempatia se torna essencial: Oferecer-nos espaço para sentirmos o que estamos a sentir. Tal como quando oferecemos empatia ao outro, podemos oferecer-nos o espaço para sentirmos o que estamos a sentir, cultivando o mesmo tipo de presença. Para isso, é importante:

  1. Observar-nos atentamente.
  2. Ouvir atentamente o que está vivo em nós naquele momento, o que estamos a sentir e o que estamos a precisar.

Exemplo:
“Estou tão frustrada e aborrecida. Não tenho capacidade para lidar com esta situação agora, preciso mesmo de calma e clareza.”

Treinar a nossa capacidade autoempática é um excelente investimento, pois quando nos conseguimos conectar e reconhecer o que está vivo em nós, deixamos ir a tensão e tornamo-
nos mais disponíveis para os outros também.

Empatia para celebrar

A empatia não serve apenas para situações de conflito ou quando alguém se sente mal. Podemos, e devemos, utilizar a empatia para celebrarmos juntos com os outros os seus momentos bons. Isso permite que o outro se sinta visto de uma forma mais profunda e aumenta igualmente o seu autoconhecimento.

Exemplo:
● “Que bom ver-te tão feliz! Percebi que estavas com tanta vontade de concretizar este projeto e agora estás a conseguir relaxar?”
● “Pareces-me mesmo energizado! Esse exercício físico todo que andas a fazer parece-me estar a fazer-te mesmo bem.”
● “Pareces ter ficado tão calmo e relaxado depois de teres recebido a informação sobre o que vai acontecer. Estás mais seguro sobre o teu papel?”

“Quando ficamos com o outro e refletimos o que estamos a observar, permitimo-nos entender melhor o outro e permitimos também que ele se fique a entender melhor a si próprio.”